quinta-feira, 2 de julho de 2015

Lembra, Janer?


Se a nostalgia e a saudade são defeitos nesta vida corrida e cruelmente objetiva dos dias da modernidade que nos assiste, então sou um defeituoso de origem, inapelavelmente deficiente para enfrentar os tempos que correm insandecidos nos beirais do progresso.
E correm para onde?
Em busca de que?
Lembra, Janer, aqueles nossos infindáveis questionamentos sobre o que somos, de onde viemos, para onde vamos e por que?
Lembra amigo?
Lembra daqueles conturbados e acalorados debates em nosso Clube de Cinema (sim, porque televisão não tínhamos) sobre as ousadias de Gordard, Fellini, Pasolini e outros meninos malvados da cultura mundial? Lembra de Marcuse, Erich Fromun, Marx, Hunxley, Maritain e outros vândalos formadores da opinião da nossa geração?
Lembra, Janer? E o que dizer de  Sábato, Cortázar, Freire, Luscher, Aquino e outros tantos desvairados que guiaram nossas almas em busca da verdade mundo a fora?
E os duelos mortais entre as teorias da evolução e do criacionismo, as teses do acaso e a necessidade, os arrazoados sobre determinismo e caos – lembra amigo?
Lembra aquela vez que amanhecemos, ruidosamente, na Praça Central, discutindo a existência de Deus? Lembra que fomos solenemente corridos, pelos clamores do pároco apoiado pela força pública? Lembra do nosso Pirilampo, um Jornal despretensiosamente (diria inocentemente) estudantil cuja edição foi apreendida com requintes de arbitrariedade medieval? Lembra, amigo?
Pois é – tudo isso porque, enfim, queríamos um mundo melhor. Essas eram nossas armas no justo contexto de argumentos a favor da inteligência, da sabedoria e do senso crítico.
Naquela época não engolíamos gato por lebre. A filosofia era nosso esporte preferido.
Nossas brigas não ultrapassavam o sagrado terreno das idéias.
Hoje o arsenal é outro: - Abundam as drogas, as vinditas, os interesses egoístas, as tramoias, os subterfúgios, as facas, as armas de fogo, as extorsões, as subjugações e outros andamentos a favor da mediocridade e, enfim, no rumo de coisa nenhuma.
Hoje não mais se discute – se mata ou se subjuga.
Claro que há raras e honrosas exceções. Mas de tão raras por mais honrosas que sejam, sucumbem nesse caldo social sem eira nem beira do cotidiano que nos tem de favor.
Lembra Janer de nossos encarniçados debates sobre capitalismo versus comunismo emoldurados na denominada “guerra fria”?
Lembra de nossa curiosidade sobre a chamada “cortina de ferro”? E o muro de Berlim, lembra?
E aqueles bate-bocas mais caseiros sobre feminismo e machismo?
Lembra que não chegávamos a qualquer conclusão? E o capítulo das opções sexuais, doenças venéreas, anti-conceptivos, mini-saias, sungas, calças justas com boca de sino e sapatos com bico largo?
Lembra das reuniões dançantes, do rosto colado, das músicas que insinuavam a dança de corpos tão juntos onde nem o diabo cabia entre os apaixonados?
Lembra das amadas do baile, mulheres para toda vida, uma versão paroquiana de cobiçadas estrelas da sétima arte, como Cláudia Cardinali, Sofia Loren, Catarina Deneuve, (la belle de jour) Ava Garner, Lauren Bacall, Gina Lolobrigida e outras musas de tirar o fôlego?
Lembra amigo?
Inquietudes juvenis que subvertiam a ordem de nossos “comportados” dias, eivados de inocência e paixão pueril!
Éramos impertinentes mas justiça se faça, nunca matamos ou morremos por amor: - nosso credo maior sempre foi a vida. Aliás sempre cultuávamos o preceito de quem vive a vida aprende e quem deixa viver ensina.
Esquece, Janer! Tens o sagrado direito desse esquecimento. Estás em outro plano, certamente bem mais gratificante e promitente do que este dos tempos terrenos em que vivo.
Me conforta a saudade (e a nostalgia) dessa época em que tudo se movia ao alcance da alma. E confesso que alimento ainda a desvairada esperança de que, um dia, a tua sábia palavra, e meus desencontrados contra-argumentos, possam germinar ciência e consciência no âmago de algum jovem que se aventure pensar o mundo como coisa boa e útil para todos e não apenas como mercadoria de troca para coisa nenhuma!
Esquece, Janer! Eu tentarei não lembrar!
Abraço meu querido amigo!

 
*Janer Cristaldo Moreira – talentoso escritor pedritense falecido ano passado.

Desocupados


Nesta minha modesta vida cheia de compromissos e ocupações, que Deus benevolente não me legou mas que o diabo, safado, me obrigou, o que mais temo é a intromissão intempestiva e, óbvio, sempre inoportuna, dos famigerados “desocupados” de praxe.
São perigosíssimos! Chegam de todos os lados a qualquer hora, lépidos e fagueiros, para sugar o tempo e a paciência.
Como sanguessugas de sanga, são, inegavelmente, alegres e leves na forma, mas verdadeiros entulhos no conteúdo.
Formulam sem parar, perguntas rigorosamente sem sentido e disseminam comentários gerais fundamentalmente sem propósito.
A lógica vai pra o brejo e o bom senso é mercadoria proibida nesse assédio terroristamente sem qualquer finalidade. Na verdade o propósito existe mas não tem utilidade alguma.
Não estão no mundo para somar mas certamente para subtrair.
Meu compadre me disse que tudo isso corre por conta da solidão: - essa sensação de vazio em um mundo repleto de gente e coisas. Será pelo excesso de problemas ou a falta deles?
O fato é que o desocupado de carteirinha desistiu de administrar seu próprio interior e, portanto, passa a explorar o interior e o exterior alheio.
Tudo amistosamente. Impossível brigar com eles. Os desocupados profissionais adoram armar arapucas intelecto/relacionais de difícil escape.
Inventam situações complicadas (no terreno das hipóteses) só para embaraçar e roubar tempo dos ocupados convictos.
E ficam com aquela mira e aquela disposição, prontos para confundir nosso pensamento e dinamitar nossas regras de trabalho.
Por educação e tolerância, condutas até então politicamente corretas, vamos aceitando o jogo até o extremo da saturação. E quando, por ventura, saímos da casinha, por escassez real de paciência, e assim pronunciamos palavra mais dura e cometemos ação mais destemperada, saltam, benevolentes de lá de seu reduto comodamente desocupado e sentenciam: - “estás trabalhando demais, meu velho, precisas descansar. Afasta esse stress”...
Mal sabem eles que a gasolina desse nervosismo vêm da presença chata e aborrecida deles (?)
Será?
Será que, no fundo, não são anjos providentes e verdadeiros arautos, que só querem nos passar a mensagem de que nesta vida, nada deve ser levado tão a sério, pois, salvo melhor juízo, somos grãos de areia ou gotas d’água nesse mar sem fim que é a vida, o mundo e tudo o mais (?)
Será?
Até pode! Um brinde especial a esses anjos (ou serão diabos?) que não nos deixam morrer de trabalhar.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Alvim e as ovelhas

Alvim, gaúcho dos pampas, cultiva até hoje uma memória nostálgica de sua querência.
Por força de ofício e circunstâncias existenciais transita agora pelos entreveros imensuráveis da capital.
Por imperativo do destino sobrevive no labirinto urbano, reservando boa parte de sua alma para cultivar lembranças que são âmago de sua consciência libertária.
Homem de muitas letras e aptidões profissionais não esqueceu as origens e vela por elas sempre que possível, colocando-as no centro de suas sábias decisões humanitárias.
Como esquecer o gosto das pitangas, o barro das sangas, o canto do galo madrugador, o alarido dos cachorros, o trotear dos cavalos amigos, o pega-pega das pastagens nativas, o lambari dos açudes, a sábia conversa dos galpões, o apojo do entardecer, as alpargatas, a bombacha, a água da cacimba, as tranças da Ritinha, o laço, as boleadeiras, o tirador, o pôr do sol, a coxilha da esperança, a inquietude do quero-quero e o churrasco campeiro.
Churrasco de ovelha!
Ah – que saudade!
Cabeça de ovelha quietamente degustada na imensidão do imponderável...
Costelas – e aquela paleta bem assada para degustar calmamente pensando no infinito.
Como é lindo o pago campeiro!
Um quarto de ovelha feito com arte, conhecimento e graça, em fogo brando para matar a fome da alma...
Alvim está lá mas seu espírito campereia diuturnamente por aqui reculutando sua história.
Homem de fé, dia desses, cumprindo o imperativo de seu credo, foi a missa, satisfazendo os mandos de seu animismo. Contrito, rezou e ouviu, com imenso respeito o sermão do “pastor”.
Tudo o que o pregador pregou era demais conhecido, reconhecido e aceito pela índole bondosa e mansa de Alvim. Benevolantemente disse amém a tudo o que se pregava naquele sermão de praxe. Quase que hipnoticamente tudo se aprovava sem qualquer reproche. Mas quando o orador citou “ovelhas” em sua alocução foi impossível não pensar (e cobiçar) aquele churrasco feito a partir desses animais tão pródigos e teológicos, e de gosto incomparável...
Sem medo de pecar, Alvim reportou-se a suas raízes e viu no espeto uma suculenta ovelha assando em fogo de chão para, enfim, saciar a fome e muito mais que isso – para matar a saudade de seu eu pendurado naquele heroico Sarandi do banhado...
Há pecado nisso?
Não – não há!
Alvim degustará essa carne de ovelha, ajoelhadamente, como serve a qualquer crença religiosa humanamente possível.
E siga o rito (e o churrasco) com um só rebanho (de ovelhas) e um só pastor.
Amém – e bom apetite!

Ave Alvim!

Cena doméstica


Pai e filho adolescente sentados lado a lado no sofá na frente da TV, tentam se reencontrar depois de longa e penosa jornada cotidiana.
O pai, homem de muitos labores estampava uma estafa justificada, após o abate de muitos leões naquele dia útil. O filho adolescentemente entediado, com o mesmo nada de sempre para fazer, clicava obsessiva e compulsoriamente seu tablete nº 6, já sobejamente ultrapassado pelo nº 7, mais caro e com meio giga a mais de tecnologia embarcada.
O pai recuperando-se do cansaço vira-se para o filho e pergunta:
“- E aí, campeão, tudo bem?”
“- Tudo!” – responde o piá, nem um pouco afim de papo. Seu mundo naquele momento é a telinha cheia de janelas abertas para o mundo informático: - face, whatsapp, twitter e aquela hemorragia de joguinhos irados, não permitem meio segundo de desatenção.
“- Como foi teu dia?” – insiste o pai cansadão, tentando achar o fio da meada de uma comunicação familiar fundamental?
“- Legal” – responde o filhão laconicamente, hipnotizado pelo touch de seu Ipod.
“- Cadê tua mãe, rafa?”
“- Sei lá – está fora de área.”
“- Como assim?”
“- Sei lá pai – está por aí ...”
“- E a Maria?”
“- Sei não, pai.” E dêle click no tablet. Não tem nada mais interessante que isso, no momento, para o garotão.
“- Pô – meu filho – quero conversar...”
“- Qual é (?) pai – tu tá atrapalhando.”
“- Atrapalhando o que, moleque? – Quero bater um papo.”
“- Tá bom. Segura um pouco – tô na boa com a turma...”
“- Pô – Rafa. Que turma? O que que há?”
“- Pô, careta não enche...”
“- Tu me respeita, rapaz – larga essa coisa senão vai ter...”
“- Tá legal, coroa – fala.”
“- Não filhão. Não é assim. Só queria saber de ti...”
“- Tô legal.”
“- Só isso?”
“- Só!”
“- O que fizeste hoje?”
“- Nada de mais – Tô aí...”
E assim seguiria esse “diálogo” do absurdo por séculos, sem nada de positivo para se colher.
O pai, depois de um dia inteiro de ausência, por força das circunstâncias de uma pesada jornada de trabalho para botar feijão na mesa, queria um lúdico momento de paz familiar onde pudesse resgatar a reconfortante conversa amorosa com os seus.
O filhão, naquela fase difícil do crescimento, onde seu próprio umbigo traça as diretrizes da vida e impõe os rumos decisivos do mundo, está bem distante dessas coisas de conversa olho no olho, boca contra ouvido, proximidade física e outras chatices desse embrulho careta chamado família...
Queiramos ou não, o fato é que se instalara entre uns e todos um descomunal abismo de anti-comunicação.
E nesses termos,  diante de tal realidade seria perda de tempo insistir por vias convencionais, e diga-se, antiquadas, para se ter o tradicional diálogo familiar.
Mas como não está morto quem peleia, o dedicado chefe da família, num lampejo genial, recobrando um byte de forças, desinstala-se do sofá, vai até sua mochila e saca dali seu Iphone 5, que felizmente ainda guardava uma réstia de carga na bateria.
Com tela cheia compôs e checou uma mensagem por whatsapp para o filhão.
“- E aí, queridão (?) – tudo bem contigo?”
“- Oi paizão – tudo bem. E tu?”
“- Aqui estou, filhão – morto de saudade.”
“- Pô – legal pai – eu também. Como foi teu dia?”
“- Muito trabalho, filho. A coisa não está fácil.”
“- É isso aí, coroa – bota prá quebrar. Te amo.”
“- Também te amo, filhão.”
“- E a mana, Rafa?”
“- Não sei – deve estar no twitter – tenta conectar...”
“- Oi Maria – tudo bem?”
“- Oi melhor pai do mundo. Tudo bem. Fala rápido porque estou na melhor e mais irada falação com a Re e com o Fabi.”
“- Tudo bem – só queria saber de ti. (?)”
“- Tudo na boa, velhão – fica frio.”
“- Que bom, filhota. Só mais uma coisinha. Cadê tua mãe.”
“- Oi paizão – tá no Face, claro!  Entra lá...”
“- Ok – vou entrar. Oi Madalena? Estás por aí?”
“- Oi meu amor. Por onde andaste, seu sumido?”
“- Trabalhando, Lena – trabalhando – ih – p. q. t. p. – acabou a bateria ...”
E aí a vida (moderna) fala: - põe o dispositivo na tomada, e amanhã com carga cheia tenta baixar o aplicativo “amor com, sem ou apesar da internet”.
Será que vai funcionar?...
Só os deuses do “sistema” saberão responder.
Mas uma esperança esperta espreita atrás da coxilha, louca para entrar em cena: - a anunciada (e ameaçadora) falta de energia elétrica, para os próximos dias.
Sem tomada viva para carregar os aparelhos certamente, em breve, estaremos desconectados. Eis nossa grande chance de uma conexão familiar legal, proativa e promissora. Viva – a vida doméstica está salva!
E aí, diremos o que uns para os outros?
Eu arrisco: - “pô – e essa luz quando voltará? Pô! Pô!
Qual é?”!...

Maioridade Penal


É fato que a realidade da lei brasileira favorece a instrumentalização do crime, através da inserção do menor em ações anti-sociais.

A inimputabilidade de indivíduos menores de 18 anos, propicia e, de certa forma,  incentiva a prática de atos criminosos, pela falta, de dispositivo penal próprio que coíba e discipline condutas do tipo no contexto da maioridade convencionada. E isso é, ou tem se constituído em problema real e atual em nossa sociedade.

O debate sobre a redução da maioridade penal, que assumiu caráter urgente, nos dias de hoje, pela lauta exposição de fatos críticos que tem povoado nossos noticiários, compromete os parâmetros de harmonia e sustentabilidade da própria sociedade como ente de conteúdo contratual,  no simplismo dos à favor de um lado e os contra de outro. Isso é pouco para objetivar solução satisfatória.

É preciso intelectualizar, culturizar e de preferência racionalizar a discussão, bem longe de pruridos ideológicos e ou de questiúnculas politico/partidárias.

As últimas pesquisas demonstram que quase 90 por cento do povo brasileiro indica que algo deve ser feito a respeito.

Aqui e ali aparecem argumentos do tipo: - “sou contra porque a realidade prisional de nosso país é caótica e não resolverá a questão, porque, enfim, lhe falta o prodígio da ressocialização, condição fundamental para se mandar qualquer ser para a cadeia e com mais razão ainda um “menor” indefeso!

Mas isso só, não é argumento suficiente para arguir contrariedade absoluta ao tema, da mesma forma que não é plausível ser contra a eletricidade por não se ter um poste adequado para sustentar, tecnicamente, os fios que conduzem essa benésse.

Os meios não podem condicionar os fins,  da mesma maneira que será ignorância, em clima de fúria tribal, descartar os benefícios da aviação simplesmente porque não se tem um campo de pouso circunstancialmente apropriado para o pouso.

O problema do menor inserido em atos criminosos com efeito de progressão geométrica sem qualquer dispositivo de proteção ao contrato social, é real, atual, fático e dramático.

Aos que “carnavalescamente” – diria alienadamente, verberam oposição absoluta a proposta de redução da maioridade penal, rogue-se que os mesmos apresentem sugestões plausíveis, e acima de tudo, exequíveis para encaminhar solução para o problema.

O problema existe – está aí para todos nós sorvermos e sustentarmos onerosamente.

Não basta ser apenas contra. Se a redução da maioridade penal não é tentativa objetiva para encaminhar solução para o problema do compulsório uso do menor instrumentalizando a criminalidade, então, o que será?

É preciso apontar alternativas: - apresentar propostas para mudar esse status quo.

Não é razoável ser apenas contra o debate do tema assim como não é inteligente ser contra a água tratada simplesmente porque ainda não se tem o cano próprio para sua condução. Dizer-se que se é contra a redução da maioridade penal porque  a situação prisional brasileira é cruel, será o mesmo que condenar a geometria porque a régua está quebrada...

A aviação, a eletricidade, a geometria e a água potável, são descobrimentos, inventos e conquistas inalienáveis da humanidade sob todos e quaisquer aspectos. A redução  da maioridade penal se insere nesse contexto dos valores absolutos que sustentam uma sociedade na simetria da civilidade de convivência, e na qualidade de vida para seu progresso e permanência.

Só dez por cento do mundo ainda não decidiu a seu favor nessa questão. O Brasil, infelizmente, está nesse time indeciso: - não sabe o que quer porque, na verdade, não sabe o que, nem como, nem quando e quanto pretende.

Quando, enfim, teremos a maturidade e a sabedoria de admitir, com humildade dignificante, que o que é bom para o mundo para nós mal não é nem será?...!

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Mais ou melhor (?)


Sempre tive dificuldades especiais na conciliação do mais e do melhor, no trato das essencialidades da vida. Confesso que tenho escandalosa preferência pelo mais quando se fala, por exemplo, em mais tentos a favor do meu time, mais água em tempo de seca, mais dinheiro no bolso, mais feijão no prato dos brasileiros e por aí. Mas quando se discute a qualidade de vida das pessoas no contexto público ou na realidade interpessoal declaro, de sã consciência, que voto no melhor e pronto.
Quando se invoca saúde, educação e segurança, só para citar, quero o melhor e não me contento apenas com o mais. A quantificação não resolve o problema nessas áreas assim como o aumento na parelha de burros puxando a carroça não encurta o trajeto entre o aqui e o lá. Melhor saúde é sempre mais eficiente do que o mais saúde, pois o conceito do mais não cura e o melhor tem boa chance de fazê-lo.
Quem quebra uma perna, ou tem o corpo invadido por vírus não precisa de mais mas sim de melhor tratamento para vencer esse percalço. Mais tem conotação de guerra no enfrentamento aberto em campo de batalha como se fazia na antiguidade, assim conta a história.
Melhor é o trato inteligente, tecnicamente adequado e eficaz para vencer a luta a favor da sanidade.
Da mesma forma, na educação: - não basta encher escolas, para não ensinar o essencial. É preciso preenche-las melhor para que se transmita o conhecimento proativo, que pode, de fato, mudar o mundo e a vida.
Melhor segurança sempre invés de mais, pois, na verdade, não é a quantidade de soldados que faz a diferença na batalha e sim o preparo e a competência dos guerreiros que alcança o domínio no combate.
Então, cuidado, com esses conceitos soltos por aí ao sabor da fragilidade circunstancial do mundo e das pessoas. O mais está sempre mais afeito ao discurso público e ao proselitismo político, tem a compleição da quantidade que faz simetria com a quantificação dos votos que por sua vez tem pleno êxito na fatura eleitoral.
Infelizmente nossa democracia ainda não contempla a qualificação do sufrágio. E se o fizesse não seria discriminação ou elitismo como pensam alguns populistas de poucas luzes, e sim seria o empenho da consciência, o aprimoramento do senso crítico, a qualificação da escolha: - comportamentos e condutas que só fazem bem ao todo porque priorizam, distinguem e definem governos probos, eficientes e comprometidos com o bem público. Ganharíamos todos, de uma vez só, votando no melhor e deixando o mais para assuntos comezinhos ao alcance da relação esportiva ou lúdica de nossa sociedade.
Jobs não tinha mais tecnologia e sim melhor tecnologia em seu Aple. Recentemente um incêndio no Porto de Santos não exigiu mais água para ser apagado e sim melhor aplicação de meios (incluindo água) para ser debelado.
A Alemanha não tinha mais jogadores e sim melhor equipe para decretar o placar de sete a um sobre nossa seleção.
Historicamente o Brasil venceu guerras, como a dos 33 orientales, com menos gente, mas sobejamente mais preparada.
Qualidade mais que quantidade faz a diferença nos embates das essencialidades da vida e do mundo.
Pensemos nisso – bem melhor do que simplesmente mais.
Não é a quantidade do pavio mas sim a qualidade da vela que faz a chama.
Então, assim é – e que assim seja. Votemos hoje, aqui e agora, mais pelo melhor do que melhor pelo simplesmente mais.

                       

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Imposto polui III

Para poder pagar os impostos você precisa produzir mais. E para produzir mais você gasta mais. E se você gasta mais, além de pagar mais impostos, você interfere mais, arrisca mais, ocupa mais, massifica mais, suja mais.
Para que servem os impostos?
Esse é um debate só possível em democracias de verdade.
Pergunte. Questione.