terça-feira, 23 de agosto de 2011

SE NÃO ME FALHA...


Quem já não teve tropeços de memória? Sim, aquele “branco”, justo quando se quer lembrar o nome de um amigo, um número de telefone, o compromisso inadiável, a conta para pagar, o aniversário, o horário, a fisionomia, a chave, documentos, momentos, a dentadura, o olho de vidro, a aliança, o colete, o verbete, o guarda-chuva, o endereço, o recado, o pecado, a história... Ah, essa memória que nos tortura!
Quem já não teve aqueles famosos lapsos inoportunos, no discurso de improviso, no encontro casual, na prova valendo nota, no cadastro valendo nada, no telefonema valendo tudo? Quem?
Segundo estudos de técnicos americanos, só o bicho homem tem a inigualável faculdade de esquecer ou de não lembrar. Alguém, por acaso, conhece vaca esquecida? Jacaré esquece? Saracura tem a capacidade de não lembrar? Os animais não esquecem, daí porque a justa comparação quando alguém se salienta na arte de tudo lembrar – esse tem memória de elefante...! Vá que seja!
Na média, somos todos um alegre bando de esquecidos.
Análise mais acurada do assunto exigiria alguns reparos sempre úteis para o perfeito entendimento da espécie humana. Na verdade, existem os desmemoriados e os distraídos. À primeira vista parecem vinho da mesma pipa mas, justiça seja feita, são bem diversos na soma total das parcelas.
O esquecido é isso por isso mesmo, e o distraído é o que geralmente lembra errado.
O primeiro, se não lembra, não diz. O segundo, porque nunca lembra, sempre diz as coisas mais disparatadas possíveis. Diz e faz...!
Certa vez, armou-se discussão em torno de um caso bem estranho: Um sujeito que foi ao baile e esqueceu a mulher em casa. Esquecido ou distraído?
“Pura distração”, dizia um grupo, “esquecimento puro e simples”, dizia outro. “Esse é um caso de legítima desmemória”, argumentava um dos debatedores. “O distraído autêntico jamais cometeria essa gafe, iria ao baile, só que com a mulher errada...!”
Debates à parte, todos sabemos o drama que é esquecermos o que deve ser lembrado.
Para tudo há remédio, dizem estudiosos do tema. Há maneiras e artifícios para baixar, consideravelmente, a estatística do esquecimento. Aconselham os práticos que se anote tudo em uma agenda. Dia, hora, o quê, quem, onde, por quê, tudo. Não tem erro desde que não se esqueça a agenda. Não é raro toparmos, diariamente, com uma legião de fantasmas, com olhar perdido, à caça desesperada de suas próprias agendas.
E hoje temos as moderníssimas agendas eletrônicas, verdadeiros prodígios da tecnologia, tão difíceis de manusear, tão fáceis de perder. Há quem diga ter visto uma novinha em folha, dormindo alegremente na geladeira, bem ali na prateleira das saladas. Pior se estivesse no forno...
Não é consolo, mas, vendo bem, todos, um dia, já mastigamos esse contratempo. Todos! Já os esotéricos recomendam recurso bem mais resolutivo para a questão. Sugerem o denominado artifício do “terceiro elemento”. O adequado “adorno referencial”, para onde convergiria a energia emanada do esforço de lembrar, faria a grande diferença na hora H do “tilt” da memória. Uma fita no dedo, uma melancia no pescoço, uma pedra no bolso, uma corrente de cachorro na cintura, uma nota de cem dólares colada na testa, uma jibóia enrolada no braço, um tamanco holandês no pé esquerdo, um lambari dentro da pasta, uma fotografia da Tiazinha no pára-brisa e outra do Ministro da Fazenda na carteira, são maneiras infalíveis de sempre lembrar e nunca esquecer.
Lembrar o quê, mesmo?...
Ah, som! Lembrar de não esquecer...

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