Leio em uma dessas publicações pára-científicas, mal
habituadas a nos reduzir a desprezíveis amebas, que o Sistema Solar (todo o
Sistema) – está em processo de deslocamento a uma vertiginosa velocidade de
(pasmem) – “dois milhões de quilômetros por hora” – e sabe lá Deus para onde
(?)...
Apesar
da conhecida (e comprovada) lentidão de certos fenômenos “estrictamente”
terrenos, lá vamos nós, céleres, lépidos e fagueiros, com o pé na tábua, para o
choque (inevitável) com “Aquilo” – nos confins do Universo.
Enquanto
isso, vamos desenrolando o vasto e pesado novelo de nossas circunstâncias
mundanas. A fila da Previdência leva mais de uma hora para andar dois metros.
Levamos quatro anos ou mais para trocar de governo e, portanto, de diretriz
administrativa. A burocracia insensível leva meses para atender nossos
comezinhos (e justos) pleitos. É longa e penosa a espera por uma aposentadoria
merecida. Gastamos horas e horas amealhando riquezas para, um dia, podermos
comprar mercadorias perecíveis tais como saúde, juventude e aventura.Mastigamos
uma penca de anos para crescer e outro tanto para amadurecer; décadas para
perguntar e outras para responder; gordas fatias de tempo para prometer e
polpudos nacos para cumprir. Mas, lá vamos nós, de rebenque em pé, “a dois
milhões de quilômetros por hora”... Para onde?? Quantos centímetros anda, e que
tempo leva, a lesma (apressada) para
engolfar sua pressa?? E o que pensar daquele presidiário queimando longas horas
de suas contas de solidão e mágoas?? E o menino correndo atrás da pandorga para
alçar a vontade e perdoar o tempo?? E o mendigo roendo eras para resgatar sua
dignidade?? E os milhões de adolescentes perdendo centenas de segundos para
conquistarem a inconsciência?? E as generosas doses de tempo servidas nos bares
da vida, entorpecendo a vontade?? E os longos volteios do poeta catando rimas
para sua musa predileta?? E a infindável espera da reconciliação?? E as vastas
estações para o amadurecimento do perdão?? E os séculos para a compreensão da fé??
E a infinidade de horas para tecer a colcha da felicidade??... E as incontáveis
dúzias de minutos para entender (e aceitar) a verdade?? E a imensidão do espaço
para encher de humanidade??...
De
fato, somos muito lentos e, reconhecidamente, vagarosos. Mas nosso Sistema está
a dois milhões de quilômetros por hora...
No
fundo, somos vetustas lesmas de jardim, em busca de “sociedade”!...
Somos
morosos, quase letárgicos, mas o Universo corre sem parar.
Perdemos
tempos e tempos conjugando verbos mas o Universo empilha, rapidamente, os
substantivos da vida. E os adjetivos, de quem são? São do tempo, do vento e da
sorte... E o sujeito, o objeto e o predicado?? Esses são da consciência. Por
quê?? Porque a ela a natureza confiou a guarda do contraditório universal: -
minutos para viver e morrer mas a vida inteira para inventar ou descobrir
esperanças – a dois milhões de quilômetros por hora...