terça-feira, 26 de abril de 2011

Os bodes...

Na página de opiniões da Zero Hora compareceu um empresário do setor de revenda de combustíveis (dono de Posto de Gasolina) pedindo um basta nessa “malhação de Judas” com os revendedores de derivados do petróleo.
Chega de ser apontado e apedrejado como o vilão do filme. Sempre que se avizinha uma “crise” no abastecimento de combustíveis, bate-se sem parar nos postos como se estes fossem a causa do problema.
Como em qualquer comércio, quando os fornecedores sobem os preços no atacado, o varejista se vê obrigado a reajustá-los, sob pena de quebrar.
São as distribuidoras as verdadeiras bandidas nessa novela. Elas dizem que não – que apenas obedecem as diretrizes governamentais. Será?
No final quem paga a conta somos todos nós – contribuintes, cidadãos, eleitores. Precisamos reagir mas não vamos a lugar nenhum esmurrando os empresários revendedores, “bodes expiatórios”, que por estarem ao nosso alcance levam bofetadas e pontapés de toda ordem.
Não é por aí, certamente.

Simplismo

Li por aí que a cabeça iluminada de um deputado encaminhou um projeto para dispensar o “atestado de residência” para os moradores de rua.
Se não fosse hilário seria trágico porque mais uma vez prefere-se enfeitar a vassoura invés de espantar a bruxa.
Quando se facultou voto do analfabeto invés de acabar com o analfabetismo nada mais nos surpreenderá.
Como está difícil tirar das ruas os moradores de ... então que se dispense atestado de residência aos mesmos quando forem encaminhar título de eleitor, crediário, cadastros gerais e, quem sabe, até algum polpudo empréstimo bancário...!
E viva o Brasil!

Espinhel e rede

Filigranas da lei de trânsito publicadas em diminutos espaços do Diário Oficial, já estão pegando os condutores como peixe em espinhel e redes.
E não são medidas necessariamente voltadas a segurança no trânsito.
São coisas do tipo envolucro plástico do extintor de incêndio. É crime não tirar o plástico do extintor: - dá multa e pontos na carteira. Pode?
Tenha bem presente a data de vencimento da sua carteira de motorista, pois se você piscar, vai ter que fazer tudo novo como se fosse a primeira vez. É tudo arrecadatório e nada educativo.
Quando, enfim, teremos regulamentos eficazes para diminuir essa calamidade no trânsito brasileiro?
Quando? 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Brasil Correligionário

Está cada vez mais disseminado um certo pragmatismo político – administrativo – que considero extremamente comprometedor para a democracia.
Espalha-se ao sabor de qualquer vento que o melhor para qualquer governo municipal será o alinhamento político-partidário com os governos estadual e federal respectivamente.
Através desse enquadramento doutrinário-eleitoral é que se poderá pleitear (e conseguir) obras de peso e verbas de fundamento.
Por meio de um encadeamento fisiológico e clientelista – quase compadresco – é que se multiplicará pães e peixes para satisfazer a fome do povo.
Acho que isso é um tremendo erro de avaliação e um despudorado deboche da verdadeira democracia.
Tanto se lutou para consagrar um regime de equivalência, proporcionalidade e consenso entre desiguais – na boa e justa simetria dos valores genuinamente humanísticos – e agora essa fúria eleitoreira e o conchavismo político-administrativo querem dinamitar a nobre conquista entronizando em seu lugar a mediocridade do unanimismo. Eis o Brasil correligionário.
Tal simplismo só convém a quem não tem qualquer projeto social de longo prazo porque é movido pelo imediatismo e pelo grosseiro interesse do aqui e agora.
O pior é que tem gente boa sendo tenebrosamente envolvida nisso – são os tais inocentes úteis.
Mas isso não pode prosperar.
Cidadãos de razoável senso crítico precisam agir e reagir – já – antes que mal maior aconteça. Tomem nota...

Horário – mute – clic político

A compulsoriedade do denominado horário político-partidário subverte a boa intenção das propostas.
Ninguém gosta de ser obrigado a assistir.
Todos gostam de ser convidados a assistir.
O regulamento da propaganda eleitoral prefere obrigar...
Contra essa arbitrariedade existe a contrariedade que, enfim, de posse do controle remoto lançará mão do “mute” ou do “clic desliga”. Quem tem parabólica foge para outro mundo. No rádio é só desligar.
Um dia alguém vai optar pela inteligência e mudará esse cenário.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Perspectiva humana

É preferível um bandido na rua do que um inocente na cadeia”! Essa é a idéia prevalente em uma sociedade humanista.
O ideal é que os bandidos sejam encaminhados para o fundo das penitenciárias e os inocentes gozem, livremente, a prerrogativa da cidadania plena.
Nossas casas de detenção são verdadeiras centrais geradoras da indignidade humana. Nem de perto são aquilo que a teoria preconiza: - redutos de ressocialização e agentes de reeducação.
São, isto sim, fossos abismais do vício, do ódio, da destrutividade, da desvalia, e da profissionalização do crime.
Certamente ninguém, de sã consciência, vai querer correr o risco de jogar nessa lama uma alma limpa e pura. E, convenhamos quem pagará a conta do trauma e da ferida moral que sofreria um inocente jogado, por um minuto, nesse vale do padecimento supremo? Quem?
Por essas e por outras é que devemos entender a prudência dos tribunais. Salvo melhor juízo, o norte dessas pessoas é, ainda, a perspectiva humana, felizmente.

De novo...

Cada vez que uma comoção nacional deságua pelo cano insensível de uma arma de fogo – vem o debate sobre a severa limitação desses “instrumentos do diabo”.
Geralmente, nesses momentos febris ninguém contabiliza os empregos produtivos e socialmente satisfatórios dessa ferramenta que também afugenta ou elimina bandidos.
Está no prelo mais uma campanha nacional do desarmamento. Se a coisa fosse mesmo para valer – isto é, bem além das ideologias e das caras e bocas de caráter demagogicamente político – deveria se proibir a fabricação de armas de fogo em território nacional.
Ah – mas e as armas vindas de fora? Pois que se patrulhe as fronteiras, caçando armas e traficantes. Que se use essa força pública prioritariamente para isso e não para a simples proteção ao fisco, prendendo, multando e constrangendo pessoas que contrabandeiam ar condicionado, por exemplo – mais barato lá porque aqui a voracidade dos governos, através dos tributos simplesmente proíbe sua compra pela classe média.
De novo a incompetência, a incoerência, a safadeza, o calculismo, a malandragem, a inconseqüência e a burrice escandalosa pretenderão “desarmar o cidadão e não o ladrão”.
Essa gente que prega o desarmamento geral está em ninho bem quentinho e protegido, às nossas custas.
Reajam. Com mais arma ou menos arma – uma sociedade doente continuará produzindo loucos. E saibam que não é a quantidade de corda que produz enforcados...
E se formos alargar o debate sobre mortes e armas – não seria despropósito, pela mesma via lógica, uma campanha ampla de desarmamento, proibindo a livre circulação de automóveis – verdadeiras armas que diariamente ceifam centenas de vidas.
O debate é franco e forte.
Quem se habilita?

Avanços

Permitido não ver – o vertiginoso avanço tecnológico colocará, em breve, na sala dos brasileiros comuns, um aparelho de televisão inteligente (?), capaz de interromper, eletronicamente, cenas que “atentem” contra a moral e os bons costumes. Trata-se de um dispositivo que poderá interagir com a programação, fazendo os cortes salvadores da família, através de um elementar sistema de simetria.Melhor explicado: - o chefe (ou a chefe) da casa, digita o que não deve passar na telinha, e pronto. Toda vez que novelas, noticiários, filmes e outros programas ultrapassarem essa interessante linha censural, o aparelho desliga automaticamente, até que as coisas se recomponham. Será que o horário político vai entrar nessa tesoura???
Mas, enfim, a ciência à serviço da integridade moral das pessoas de bem. Tecnicamente será possível, em futuro próximo, usufruir o direito ao sagrado direito de não ver. Já se prevê que, em algumas residências, a televisão vai passar a maior parte do tempo chuviscando.
Cá entre nós: - não seria mais fácil (?) e mais humano (?) estipular um limite direto, curto e grosso, sem ter que jogar a responsabilidade para esse primo do computador?? Há quem diga que alguns pais de família deveriam receber, eles próprios, uma generosa dieta de chips e integrados para digitarem a coisa conveniente, com coragem, no tempo certo.
Uma dose para aplacar a febre permissiva, circuitar a indiferença e desligar o medo dos filhos... Será que a técnica tem (ou terá) esse recurso??...
Cachorro? – depois da ovelha clonada e do rato com orelha humana nas costas, a novíssima (?) bio-engenharia promete um cachorro rigorosamente “sociável e vizinhal” – não late, não morde, não defeca, não acumula pulgas, não faz aquilo em postes e assemelhados, nem perturba a gata da vizinha.
Pela via lógica do prometido, há de se depreender que esse fantástico cusco do futuro também não caçará, nem fugirá de foguete e tampouco correrá atrás da banda, nem se perderá da mudança, pois não será cão vagabundo, que anda sozinho no mundo, sem coleira e sem patrão...
Continuará sendo animal de estimação – grande amigo do homem – de insuspeita utilidade e lealdade – que conseguirá caçar, com invulgar talento, de dois em dois dias, os óculos do dono, se e quando conseguir farejar os seus próprios óculos... Eta cachorro bom; meu garoto!...
Transporte – No futuro não precisaremos de estradas, nem de trens, caminhões, navios e aviões. Automóvel será só para passear em volta da praça.
No amanhã transportaremos animais, pessoas e coisas através da “desintegração”. Isso mesmo: - uma prodigiosa máquina, instalada nas estações certas, fará o transporte correto (?) desintegrando as partículas e as reintegrando no destino. Coisa simples, desburocratizada e sem maiores angústias. Desmancha uma carga de arroz na saída da lavoura e a recompõe na porta do armazém. Desintegra uma excursão do exército da salvação e a reintegra na praça da promissão. Esfacela a Xuxa e a recupera lá em pleno estúdio. Desmancha o Tiririca e conserta, com maquiagem e tudo, para trinta segundos de horário político obrigatório. Alguns políticos deixará uma molécula por aí de tanto que transitam. O Papa tomou cuidados, e manda benzer sua máquina de manhã e de tarde. Certos deputados só vão encontrar todos os seus átomos na próxima eleição, se forem eleitos.
Aquela carga de bananas que virou abacaxi não deu grande prejuízo ao feirante, pois consumidor é bicho manso que aceita qualquer coisa. Se o gato veio por lebre, ficará tudo certo, o povo é suficientemente tolerante e compreensivo. A máquina será um sucesso!... Podem crer. Se faltar luz – hipótese pouco provável – a mágica pode complicar. É oportuno que se informe que a tal estrovenga funciona à força de energia elétrica. Pois é...
Em um primeiro momento alguns disparates podem acontecer: - de repente, o Tiririca pode descer com a gravidez da Xuxa e a própria vai aparecer na telinha (para espanto dos baixinhos e altinhos) com a indecente touca do Tiririca. Vez que outra Sua Santidade pode aparecer de brinco e generosas tatuagens. Aquela carga de arroz pode confundir o livre comércio de pó em algumas esquinas e Fidel pode aterrissar como vocalista do U-2 em plena Barra da Tijuca. Fenômenos acontecerão... mas só nos primeiros cento e cinqüenta anos. O resto está calmo, tranqüilo e... normal!...

A sopa

Como diz a nova mentalidade polonesa, a questão, não é transformar um aquário em uma sopa de peixes e sim fazer de uma sopa de peixes um verdadeiro e bonito aquário”.
Embora, geográfica e etnicamente, distante, a lição nos serve e o chapéu nos cabe. Há tempos, um caldeirão de reformas coze nos fogões oficiais. O aroma dessa pajelança sai pelas ruas, praças e campos, invade mansões e ranchos, se adensa nos corredores, ganha estádios e se perde na doce brisa que beija e balança...
Em 88, a Nação escreveu, de livre e espontânea vontade, que: saúde, educação, segurança, alimentação, moradia, transporte e lazer são  direitos do cidadão e deveres do Estado. De lá para cá, justiça seja feita, muitos tem cometido o esforço de tornar exeqüível tal idealização. Entre o fito e o fato, ainda existe um batalhão (cada vez maior) de desvalidos que, diariamente, entrega as próprias entranhas de cidadania, para engrossar o caldo das indecisões ou apimentar o pirão das vontades meramente eleitoreiras, geralmente imediatistas, sempre mal fervidas, e, portanto, indigestas.
No balancete desse enfaro nacional, repleto de regorgitações doutrinárias, sobram números e falta finalidade. Abunda técnica e escasseia a ética. Derramam-se formas para pouca essência.
Enquanto a saúde pública morre de inanição orçamentária, na sala de espera, a morbidez edita um código de trânsito que promete cadeia a quem sequer consegui sair da masmorra. O remédio vem com prescrição farta e violenta. Não se surpreendam se a lucidez dos mandatários, de repente, recomendar o agravamento da infecção para compensar e fazer frente a alta dose do antibiótico.
Se o remédio foi muito (?) / - ora, aumenta-se a doença...
A educação continua reivindicando os temperos do adestramento utilitário para a robotização das vontades. Ávidos consumidores e submissos contribuintes saem em fornadas para completar o banquete da inconsciência social.
O barulho das barrigas e das consciências vazias, um dia atrapalhará a morna sesta dos donos da Pátria. Nessa hora o desarranjo consertará os apetites. Aí, então, seremos solidários na armação do aquário, porque já foi repartida de maneira equânime...
O fervido será de todos para todos, sem reproches, porque, afinal, ninguém deixará de entregar o peixe a quem ainda não aprendeu a pescar...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Candiota x licença ambiental

É público que o Brasil foi um dos signatários do “protocolo de kioto” – uma tabula de intenções de muitos países para frear, lenta e gradualmente, a queima de combustíveis fósseis, os grandes vilões do denominado “aquecimento global”. Petróleo e carvão estão no alto da lista lesa-mundo, no que refere a poluição ambiental. O Brasil leu e assinou o dito documento. Antes mesmo que caducasse pelo tempo a tal “carta” foi escandalosamente desmentida, desrespeitada e vilipendiada mundo a fora. Nosso País foi um dos moleques a bodocar as vidraças da solene, pública e documentada intenção.
Não só não projetou um progressivo desmanche de suas fornalhas a carvão, como, bem ao contrário, contratou o aumento desmesurado de suas bocas e torres. Candiota é um exemplo disso. Mesmo assinando contrato de não fazer – fez a negociata para queimar mais carvão e acumular muitos dólares.
Mas o meio ambiente não aceitou entrar nessa partilha milionária. Continuou cada vez mais ressentido com essa farra fim de festa: Hoje – surpreendente e milagrosamente o heróico Ministério Público levanta uma questão de ordem: - quer saber quais laudos técnicos garantem (de fato) que a fumaça de Candiota não está prejudicando pessoas, animais, vegetais e coisas (?)
Está ou não está? Eis a questão. Quem certifica? Quem garante? Quem se responsabiliza? Como é que fica essa lambança?
Já vi gente comum ser severamente admoestada (punida) por jogar dejetos orgânicos em área imprópria.
Será que vou ver gigantes industriais (e políticos) baixando o topete e obedecendo as ordens do bom senso?
Será? 

Reproduzo carta enviada pelo amigo Guilherme Weber – 2/4/11.

“Amigo Pacase.”

“Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela maneira encantadora e apaixonada como produzes teus escritos. Em segundo lugar, congratulo-o por um texto em especial, aquele em que versas brilhantemente acerca do voto obrigatório. Apesar de ter considerado o mesmo bem posicionado e com argumentos convincentes, com datíssima vênia, gostaria de contrarrazoá-lo. O voto, per si, não deveria ser obrigatório, posto que é uma faculdade (trata-se de um direito subjetivo) atribuída, pelo ordenamento jurídico, aos sujeitos, no caso cidadãos. Sendo faculdade, logo, é opcional. Entrementes, há fatores, dentre vários, que, sem a compulsoriedade do voto, põem em risco a democracia, como a falta de legitimidade de um governo eleito por poucos e a ausência da representatividade no mesmo. Ao primeiro chegamos através de uma inferência simples, se numa determinada população temos 50 pessoas aptas a votar e somente 30 sufragam, com 16 votos teremos a maioria necessária para escolher um mandatário; aí, depois de algum tempo o governante eleito por esses 16 cidadãos começa a perder força política, ao passo que, os vinte que não sufragaram juntam-se aos 14 derrotados para questionar a legitimidade (e teriam eles legitimidade para tanto? Sim, pois abdicaram do direito de votar, não de todos os direitos políticos... e, como diria Locke, “o povo tem o direito de rebelar-se – tomando as armas, se necessário – para colocar o governo nas mãos de quem o exerça em consonância com os fins para os quais o primeiro governo fora constituído”), levando, invariavelmente, a uma instabilidade institucional. No que tange à representatividade, esta visa garantir que todos os cidadãos sejam representados por grupos políticos com os quais possuem afinidade. Porém, se não voto, não serei representado, ainda que possa reivindicar a ilegitimidade de qualquer governo (algo contraditório, mas permitido). Outrossim, muitos, da adoção da faculdade do sufrágio, sentir-se-iam desestimulados a participar do processo político. Por certo, Seu Pacase, compreendo sua posição, uma vez que, ao abrigar todos os eleitores a exercerem tal mister, faz-se com que aqueles mais atentos aos fatos políticos influenciem ou, pior, deturpem a opinião e, por conseguinte, o tão sagrado voto dos cidadãos. Ademais, os que se sentem obrigados a votar sem o senso de dever cívico, o fazem sem sopesar as propostas dos candidatos, fazendo concessões às suas torpezas. Sabemos, que se extinto fosse o voto compulsório no Brasil, aqueles que não o depositaram na urna não se sentiriam permitidos a duvidar do governo”.

Um cordial abraço,
Guilherme Weber.

Minha resposta – 4/4/11.

Amigo Guilherme.
“É gratificante contemplar um “contraponto” tão inteligente quanto oportuno. Se uma expressiva parcela de nossa sociedade experimentasse tal senso crítico, nem precisaríamos discutir a obrigatoriedade ou não do voto, certamente. Essa sociedade saberia que o direito/dever de votar é fundamental para a manutenção e o aprimoramento de nossas instituições democráticas. Quando conjuguei “respirar” com “votar” foi apenas para enfatizar o aspecto de “necessidade” pessoal do cidadão imiscuído na tarefa de participar. Por esse ângulo é que vislumbro a questão: - a primeira (respirar) estritamente pessoal e a outra (votar) de sobeja projeção e efeito social. Mas a “necessidade” nos dois casos – no meu ponto de vista – sempre será rigorosamente subjetiva. Ninguém respira por ninguém assim como ninguém vota por ninguém. Aqueles que não sentem a “necessidade” de votar presumo que, de fato, não precisam e não querem participar do processo político-eleitoral. Mesmo sem votar, um dia poderão questionar o andamento das instituições mas seu questionamento só será procedente e decisivo através do voto. Pelo menos isso é o que se preconiza nas democracias ideais. Onde há liberdade de votar o não votante estará se auto-alienando por conta e risco. Que carregue o ônus de sua vontade – ou desvontade... Na obrigatoriedade do voto a participação não será essencial e sim apenas formal. Forma se modela – essência se liberta... No capítulo da representatividade penso que esta tem mais a ver com “qualidade” do que com “quantidade”. Especialmente na democracia. Senão, vejamos: - pelo que sempre soube, democracia é um regime que prega o império da lei e esta é a resultante do acordo social. Na democracia ideal lei não é produto da vontade da maioria e sim fruto do consenso – acordo de vontades. Imagine se valesse, sob qualquer circunstância, o clamor da maioria? Teria que se enforcar o árbitro quando este deixasse de apitar um pênalti a favor de nosso time, com torcida majoritária no estádio? Por sermos maioria estaríamos com a razão? E se assim fosse o que seria das minorias? Não teriam vez nem voz em uma democracia? Absurdo. Ainda comentando sobre esse duelo entre quantidade e qualidade lembro de uma história que vem bem a calhar: - conta-se que na Universidade de Coimbra, em tempos de antanho, havia um bonde, puxado por dois burros, que transportava estudantes do centro até o campus. A original condução levava uma hora para chegar ao destino. Alguém espertamente sugeriu que se acrescentasse mais dois burros e assim o tempo do trajeto diminuiria para meia hora. Observando melhor, um mais esperto sentenciou que se deveria colocar logo quatro burros pois assim nem se precisaria sair para chegar... Transporta, caro Guilherme, o conteúdo dessa historinha para o debate sobre “representatividade”. É verossímil que todo o esforçado aumento na quantidade (de burros) em nada mudou a essência da tarefa. Não é a quantidade o indicativo da verdade – pelo menos nesse minúsculo enfoque do universo relacional. Aqui é a qualidade que conta... No plano estatístico e na seara das investigações comparadas penso que se deva dar um crédito ao voto livre assimilando como real o exemplo de algumas democracias estáveis que o adotam há muito tempo.
No mais, um forte abraço amigo Guilherme e obrigado por me oportunizar essas elucubrações campeiras. Forte abraço.
P.S. – aqui na Rádio Sulina costumamos dizer: - “quem não participa não tem o direito de decidir”... 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pessoas e sistemas.

Na perspectiva das políticas públicas sempre fui contra o combate sistemático a pessoas mas favorável a destruição de sistemas.
Não se muda essencialmente nada eliminando pessoas.
Há muita chance de mudarmos para melhor, corrigindo ou até mesmo extinguindo sistemas. Salvo honrosas exceções, na vida pública os indivíduos são frutos do meio.
Alguns radicais chegam a dizer que não necessariamente elegemos corruptos mas só pelo fato de se elegerem as pessoas já são corruptas.
O “sistema” é de tal forma e vício que um candidato que pretenda se eleger, tem obrigatoriamente de vender tantas vezes sua alma ao diabo, que ao final e ao cabo tudo parecerá limpo, lícito e legítimo, infelizmente.
Só descobriremos o engano quando tudo estiver consumado – as urnas escrutinadas, os resultados homologados e os candidatos empossados.
Ficha suja – ficha limpa e outros artifícios só existem por honra e glória de nosso obtuso sistema eleitoral. Está eivado de erros, tiques e tamanha libertinagem que é capaz de transformar bons em maus e os maus em piores.
Agora me chega um dado impressionante: - dos 513 deputados federais apenas 36 foram eleitos pelas próprias forças. Todos os demais pegaram carona, no famoso quociente eleitoral – estranha equação da “ajeitação” brasileira, oriunda de uma aritmética espúria que aí está para embarcar a mediocridade nacional.
Pergunto: - onde está a representatividade – esse esteio das democracias decentes? Onde?
Mudemos o sistema. Neste qualquer pessoa, por melhor intenção que nutra, uma hora chafurdará em um mar de interesses de lesa-pátria.
Não se fleche os indivíduos – e sim os sistemas.
Por aí acharemos a porta...