Quando os fatos do cotidiano nos impõem uma triste realidade
de banalização da vida. Quando os noticiários nos auguram o fim dos tempos com
informes da derrocada dos valores básicos de uma sociedade. Quando o sentimento
internalizado no seio familiar subverte os verdadeiros princípios da
fraternidade, da solidariedade e da justiça é tempo de darmos um tempo para a
reflexão e análise corajosa e criteriosa de tudo o que nos cerca, e acima de
tudo e fundamentalmente, sobre o circunstanciamento das relações sociais que
essencializam nosso existir, aqui e agora. Vemos progresso técnico e
científico. Constatamos evolução nas maneiras de agir e de empreender mas não
vemos nem verificamos sentido ético e finalidade substantiva em nossas ações
coletivas em prol de uma sociedade mais harmônica, justa, satisfatória e
providente. Isto é um fato. Os referenciais da valorização humana nas relações
sociais foi posto de lado e imperam as vantagens do logro, das ações
safardanas, das condutas egoístas, das atitudes velhacas e dos comportamentos
fantasiosos de enganação geral.
Reclamamos
do bandido que mata para se apossar de um par de tênis. Nos escandalizamos com
as motivações torpes e fúteis dos que nos roubam e nos agridem a troco de nada.
Mas sabemos
que nós próprios, por ações ambivalentes e muito mais por omissões, somos os
sustentáculos desse estado caótico e degenerador.
Senão
vejamos. Na medida em que, por ação ou omissão, damos mais valor a um jogador
de futebol do que a um médico; na exata medida em que remuneramos melhor um
cantor qualquer do que alguém que arrisca sua vida para nos proteger; na
proporção em que pagamos mais por um político do que por um cientista; na
relação de valor entre um ator de novelas e um doador de sangue; na comparação
de influência entre uma novela de sucesso e uma história consistente de vida,
de trabalho e subsistência; na perspectiva de um professor e um oportunista
aproveitador no jogo das vantagens do conchavo, do clientelismo e do
corporativismo, estamos, de fato, pagando o preço e escrevendo nossa história
de desvalia geral. O que reclamar dos bandidos? Com que cara e argumentos
enfrentaremos a penosa realidade da crescente e perigosa desvalorização da vida
e dos vivos de boa vontade?
Tudo o que
hoje acontece em nosso meio de maneira chocante, escandalosa e impactante tem
suas razões e sua gênese, e nós somos os atores e autores. A culpa é nossa e de
mais ninguém. Se não é por ação – certamente será omissão. Podem crer.
Oportuno
será refletirmos. Urge pensarmos a respeito. Um dia arrancaram as flores de
nosso jardim e não falamos nada. Outro dia mataram nosso cachorro e continuamos
calados. Dia chegará em que invadirão nosso lar e aí nada poderemos dizer e
fazer porque quando podíamos não fizemos nem dissemos nada.