quinta-feira, 27 de junho de 2013

Lideranças

Sempre fiquei com pé atrás quando se levanta a questão da falta de lideranças no contexto dos pleitos sociais.
Freud nunca economizou argumentos para explicar que os líderes, no geral, sob a ótica psico-emocional, via de regra, são aqueles que conseguem interpretar e representar a essência das paixões coletivas. E estas, normalmente, são anárquicas, difusas, ansiosas e rigorosamente desprovidas de razão e disciplina. Todos sabemos que uma sociedade organizada não prescinde de disciplina  e razão. Nesse tempo, nesse espaço e nessa circunstância, o líder, habitualmente, surge e se consagra pela incorporação, representação e substrato de uma situação de frustração geral e desvalia pontual. Uma sociedade com esse tipo de sentimento está definitivamente doente, na visão de Freud, e o líder, adoecido acima da média, teria o apanágio de representá-la sobejamente nessa realidade de caos.
Dessa forma e nesse ânimo, seria o mastro acima dos mastros – a bandeira prevalente sobre as demais, para indicar caminhos e ditar comportamentos em busca de respostas imediatistas mas suficientemente satisfatórias no clamor grupal.
Nesse cenário o líder saberá indicar saídas e seguramente saberá recomendar artifícios para acalmar o grito social. Mas, acurando a análise, veremos que as indicações são, na verdade, manobras intempestivas de salva-pátria, pródigas na forma mas carentes no conteúdo.
Passado o fato da frustração coletiva, por puro ilusionismo da ação e do discurso, sobra muito pouco de útil para realmente transmudar o âmago de uma situação calamitosa. Mas o líder receberá, e aceitará  a condição de destinatário e depositário de todo esse flagelo público, capitalizando, assim, todo o poder e toda a glória.
E para fazer exatamente o que?
Lideranças sociais geralmente são aptas e prontas nas respostas do que se deva fazer, mas sucumbem quando se questiona o por que (?).
A história, a grande e verdadeira líder na explicação dos comportamentos positivos da humanidade, não mente quando expõe, cruamente, as verdades no correr dos tempos. Hitler, Mussolini, Fidel, Chaves e outros – só para citar – estão inapenavelmente no reduto honroso (e vergonhoso) das lideranças mundiais.
E que proveito social tais lideranças conquistaram para gáudio e respeito da humanidade?
Por acaso alguém sabe o nome do líder da nação sueca, por exemplo? E da Noruega, alguém sabe quem é o líder?
Essas duas sociedades, e outras tantas, deliberadamente ilideradas, tem um nível de desenvolvimento humano e social, invejável e conseguem o prodígio de dar, a cada um o que é seu, cotidianamente, sem ruidosidades midiáticas.
O Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e muitas outras nações conseguem sobreviver condignamente sem lideranças ostensivas e vivem felizes, plenamente satisfeitas em suas comezinhas exigências históricas e existenciais.
Quem lidera no Chile a nação humanamente mais rica da América Latina?
Pensemos, portanto, com muito juízo e calma sobre essa busca frenética por lideranças em nosso heterogêneo Brasil. O tiro pode sair pela culatra e certamente sairá se deixarmos que nossas paixões e imediatismos falem mais alto que nossas verdadeiras necessidades nacionais. Sejamos cultos, conscientes, críticos, providentes e líderes de nós mesmos – esse é o melhor caminho e essa a mais desfraldável e digna bandeira do progresso em prol da qualidade de vida de nossa gente.
Isso é o que importa. O resto é teatro e representação.
Não percamos tempo buscando lideranças – vamos, isto sim, conquistar vida, buscando e achando boas causas para fazer feliz este povo e grande esta Nação.

O Brasil – grande e glorioso depende exclusivamente de cada um de nós.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Cotrijuí – o fato social

De tudo o que está acontencendo com a Cooperativa Cotrijuí e as consequências que atingem a Unidade de Dom Pedrito, preocupa, sobejamente, o “fato social” que não é outro senão a demissão massiva de pessoas que sobrevivem exclusivamente desse emprego.
            A Cotrijuí é a segunda maior empregadora de nosso município. No mínimo mil e quinhentas pessoas sofrerão os efeitos cruelmente imediatos desse flagelo.
            Questões político-administrativas, e seus desdobramentos financeiros serão diluídas no tempo e resolvidas na entranha dos embates jurisdicionais.
            Mas a calamidade do desemprego e a inevitável premência das famílias que subsistem através dessa função laborativa, gera um fato social de imensa significância, que não pode e certamente não vai passar despercebido em uma comunidade que diariamente faz enorme esforço juntando seus trapos para pleitear melhor qualidade de vida para esta terra e sua gente.
            Dom Pedrito é, com muito orgulho a Capital da Paz mas nada autoriza dizer-se que seja, por ação ou omissão, a Capital da Passividade.
            Bem além do discurso é preciso que autoridades e lideranças peguem esse freio nos dentes e demonstrem, de maneira cabal e determinada, que esta terra tem dono e sua gente tem fibra suficiente  para não permitir que tamanha injustiça se cometa contra a força de trabalho deste tramado social, denominado povo, sustentáculo de nossa grandeza de ser, ter e fazer.
            O que seria de nós sem nossos trabalhadores?
            Como ficam ou ficarão esses pedritenses/brasileiros que empenharam sangue, suor e lágrimas na sustentação diuturna dessa Empresa que tantas riquezas amealhou para esta região?
            Lamentar, apenas, os caprichos da sorte ou os contragolpes circunstanciais da economia será muito pouco, quase nada.
            A história de nossa dignidade jamais nos perdoará se não agirmos, ou melhor, reagirmos, decidida e prontamente em prol da reversão ou razoável reparação desse quadro calamitoso.
            Desprezando questões pontuais, ranços pessoais, questiúnculas político-administrativas, e filigranas macro ou micro econômicas , é preciso que se atente para o “fato social” de maior significância que é o prejuízo familiar, histórico e relacional de uma parte indesprezível de nossa comunidade.
            Sem esse tropeço já lidamos cotidianamente com os embaraços da necessidade pública originada pela falta de empregos  ou pela carência de ocupações de remuneração digna neste município da metade sul.
            Trabalhadores não são materiais de validade programada, que podem, ao sabor do uso, ser dispensados e jogados no cesto dos resíduos da inutilidade geral.
            Acho que todos estamos chamados para o equacionamento deste problema. Todos inclusive e especialmente o Ministério Público, grande Instituição, na minha opinião, a maior benesse da Constituição de 88, a denominada Carta Magna da Cidadania.
            A teoria nos encoraja mas só a prática pode, de fato, tornar objetiva e nobre essa coragem. Só através dela será possível remover montanhas: com fé, verdade, ousadia, desprendimento e espírito público. Quem se habilita? O futuro cobrará. Nossos filhos e netos um dia contarão essa passagem.
            Oxalá sejamos heróis nessa história.
            Reação é tudo o que se pede, aqui e agora.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Manancial

       Quando o desterro das ideias originais se transforma em bandeira dos oportunistas mercantis; quando a febre dos modismos provê o delírio do consumismo banal; quando os desertores da opinião acampam nos jardins dos acomodados; quando a ausência de senso crítico exaure a vontade de saber e valer; quando a razão da cultura útil perde fôlego na insana escalada da vantagem e da vendagem; quando o prodígio da palavra escrita ou dita esvai-se pela artéria rompida das miserações da rotina; quando arte e paixão perdem azo, não movem nem comovem, porque outros “botões” brotam de nossos dedos e olhos, assustadora e dominantemente; quando a genuinidade e a autenticidade não mais passeiam pelas avenidas do “progresso”; quando a desertificação da inspiração e do arroubo avança e arranca os derradeiros fiapos verdes de nossa esperança veemente; quando o vento das conveniências da “modernidade” torna-se seco e árido e castiga-nos com a sede, a fome e a desolação; quando a torrente da informação de encomenda lava e leva nossos pertences anímicos costa abaixo, numa cascata sem fim... é tempo de dar um basta!
         É tempo de resgatar um tempo de inspiração e arte, de fé e vontade, de razão e consciência, de amor e vivência, de saúde e prudência, de liberdade e paz, de glória e virtude, de humanismo e solidariedade, de oração e transcendência. É tempo de buscar origens para gerar promessas. É tempo de soprar aragem e originar procelas. É tempo de juntar sementes e cultivar searas. É tempo de respeitar e admirar o tempo.
         De onde brotarão forças para tal intento? De onde vem o estro para a iniciativa? De onde efervescem as ideias, os ideais e os idealistas?
         Há um manancial de valores e predicados que, gota a gota, verte alimentando a imaginação, excitando a vida. É um manancial de credos e vivências – uma vertente de mistérios cotidianos – um reduto de harmonia e êxtase, um nicho de dádivas e milagres, um espelho da alma que nos vive.

         Faça você também brotar em si esse manancial de prodígios: - pense, reflita, inspire-se e crie.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O erro

Quando soube da morte de Isolda, sua amiga de credo e vida, Ledir levou a mão ao peito e sentiu aquela angústia das perdas difíceis de repor. Um tsunami de tristeza invadiu sua praia de tolerância e um grande alague de melancolia varreu a planície de sua felicidade, levando tudo por diante. Um caos emocional digno da mais cruel e catastrófica cinematografia  sentimental capaz de despertar as maiores comoções relacionais, estava posto em cena, com direito a efeitos especiais e compungidos arranjos no roteiro de uma fatalidade cênica.
Perder alguém é deveras difícil. Perder uma amiga do peito – pessoa que por tantos e gloriosos tempos foi parceira na fiação da existência cotidiana, era abismo sepulcral, tirador de fôlego e alegria de viver.
A vida, infelizmente, um dia nos apronta esse tipo de coisa e não há remédio senão tentar remediar o imenso estrago.
Com esse ânimo, com dores inconfessáveis, Ledir correu para o velório, na esperança de pinçar uma réstia de luz na imagem inerte da amiga, que por força da memória e do sentimento fraternal ainda quente, poderia esboçar um último e confortador até breve.
Chegou ao velório sofridamente, aproximou-se da amiga morta convenientemente escondida sob leve manto no rosto, apertou sua mão desfalecida e pranteou copiosamente a perda irreparável e inoportuna. Chorou como devem chorar as almas puras neste vale das sofreguidões humanas.
No entorno uma porção de circunstantes testemunharam, com olhares arregalados, tamanha demonstração de carinho e dor.
Ato seguinte, ao desvendar o rosto da amiga, chocou-se ao perceber que não era ela que ali estava. Jazia naquele leito um ele, cheio de morte e mansidão.
Naquele sepulcro intermediário deitava-se alguém que nem de longe lembrava a querida amiga. Na encomendação desta para melhor ali repousava quietamente Ferdinando, homem de muita história, e conhecidas e reconhecidas aventuras pouco ortodoxas e cá, entre nós, ruidosa e escandalosamente amorosas. O que se dizia, sem contestação, que o dito salafrário em vida tinha usado e abusado de seu inefável poder conquistador. Homem de muitas mulheres e grandes bacanais.
Dizem até que a família convencional (e legal) já tinha contabilizado os vértices, as porções e os escapes desse inveterado Dom Juan. Naquele momento extremo estava, em verdade tudo dominado e perdoado. A viúva, resignada, já tinha no caderno a lista impublicável dos achegos e das amantes do safado pulador de muros.
Mas naquele azo a história se complicou. Quem seria a loira, que derramava lágrimas compulsivamente pelo desaparecimento do safardana?
Não estava na lista. Não constava na relação. Quem seria essa, com tamanha força em seu sentimento de perda, que constrangia os demais, com seus soluços ruidosos e saudosos?
Ferdinando, embora já do outro lado, aumentava, assustadoramente, os créditos de sua condição conquistadora, deixando no ar uma aura desafiadora no contexto das relações casamentais: - só na morte se saberá de fato toda a verdade – doa a quem doer.
Será?
Chorar em velório errado não tem o poder de mudar a história mas balança as circunstâncias de nossa comezinha vida neste pedacinho de universo acidental.
Não acreditam?
Chore erradamente e topará com essa e outras verdades rigorosamente inenarráveis. A vida e a morte cheias de surpresas – umas fazem rir, outras fazem chorar – de rir...


Juiz

Que mal pergunte: - você já foi Juiz de algum embate? Esportivo, sentimental, inventarial, criminal, social, artístico, já foi?
Se já – louros, louvas e hosanas a você.
Se não – recomendo que um dia seja para bem compreender os atalhos da vida e os sobressaltos do relacionamento humano.
Ser Juiz, em qualquer dos segmentos, significa incômodo hercúleo e sangue de barata a jorro. Não é fácil arbitrar pelo equilíbrio das vontades. Alguém sempre reclamará.
E você no meio desse turbilhão terá que manter a calma e fazer prevalecer sua decisão. A troco de que?  Para satisfazer quem?
Sua consciência é seu salvo-conduto nessa difícil travessia. E que mal  pergunte, mais uma vez, você já se dispôs a ser juiz de sua própria consciência?
Se já – parabéns a você. Certamente nesse azo você já se condenou e se absolveu, se converteu e se contraditou, mas enfim, venceu e organizou sua alma e sua mente pelo bem de todos e mal de ninguém. 
Se não – seu problema não é necessariamente bem maior mas fundamentalmente bem mais difícil.
Se sua consciência é o eixo de suas decisões e você ainda não decidiu de que lado está, então será inevitável implorar pelo referencial de outrem ou de algo, que, em verdade não está genuinamente no contexto de sua escolha pessoal. E aí abrem-se brechas  para uma porção de fantasmas decisórios, indiferentes aos seus sentimentos e rigorosamente estranhos ao seu poder/saber de decidir  e sentenciar. Entre esses fantasmas está a lei – que, em verdade, você não construiu.
Parece difícil – mas vendo bem  não é.
Seu julgamento soberano é a medida exata de sua intuição e retrato fidedigno de sua razão. Seu interesse é o combustível próprio, necessário, e nem sempre suficiente, para arguir e resolver, pela lei, contra ela ou apesar dela.
Quem tem razão? Esse ônus é só seu quando resolve ser Juiz – árbitro – mediador.
Assumir essa conta não é propriamente absorver problemas mas, de boa fé, tentar equacioná-los em prol da harmonia entre as pessoas.
E essa é sua vantagem perante a vida, a sociedade, o mundo e tudo o mais.
Quem lhe pagará o preço justo pelo esforço?
Os homens? Os deuses?  A história? Você mesmo? A vó do Badanha?
Sua consciência responderá, mas não se iluda, nem essa, um dia, pagará a conta por sua ambivalência ou pelo imenso prejuízo de sua pré-disposição arbitral.
Decidir por si é doce – pelos ou para os outros é amargura mortal.
Você já foi Juiz? Quer, um dia, ser?
Seja e cresça ou padeça pelo resto dos dias.
Arbitre! Resolva! Decida! Sentencie!
Só Deus ou o Diabo estão autorizados a bater palmas ou gritar vaias por sua decisão.
Na curva da eternidade saberemos quem venceu. Que peso tem isso na dimensão universal?
Seja Juiz e mova os fulcros do relacionamento humano.
Seja Juiz, com determinação e coragem.

Seja, se for capaz e audaz.

A senha

           Imagino que são poucos, os que lembram de cor as senhas numéricas para movimentação de contas bancárias e liberação de proventos previdenciários.
         Em um mundo desconectado com a decoreba de números – saudosa tabuada – é bem comum o aperto na hora de acessar favores institucionais através do encadeamento de letras e números para atingir o limbo das liberações utilitárias. Sugiro de pronto, que se troque essa prática. Quem sabe propugnemos por máquinas que nos reconheçam por outros prismas: - gestos, impressões digitais, iris, preferências partidárias, particularidades sexuais, cor, estatus social, condição de locomoção, credos religiosos, raça, cultura, títulos, profissão, popularidade, enfim, diversos e vários critérios de diferenciação social bem modernos.
A gente esquece a senha mas tem pouca chance de esquecer o que é ou o que quer ser na dimensão sócio-relacional. Na frente da máquina falaremos a verdade, nada mais que a verdade, como manda a lei e a bíblia.
Um branco inquestionável não precisará mais que isso para fazer funcionar a máquina a seu favor. Mas a segurança do sistema questionará: - tem muitos brancos retintos no pedaço e como saberei com quem estou falando? Fácil. No ato seguinte o branquela revelará outras porções de sua, inconfundível, personalidade: revelando preferência sexual, partido político, condição de locomoção, profissão, títulos, grau de instrução, clubes sociais e por aí vai.
Não há, estatisticamente, gente rigorosamente igual. Ou há!?
A máquina saberá reconhecer as diferenças e esse será o salvo conduto da cidadania nesse impasse.
Difícil – quase impossível – que duas pessoas repousem nas mesmas condições circunstanciais mundanas para efeito de um proveito institucional Universal.
Cada um é um em seus sentimentos, em suas razões e em seu aproveitamento existencial. Podem crer. Somos todos iguais, mas diferentes. Faça o teste e verá.
A diversidade humana é bem maior que a infinidade dos números. Essa é a pura verdade. Somos todos mas sempre seremos um por um, na busca dos interesses pessoais.
Já imaginaram uma máquina computando a diferença de gestos? Complexa é verdade – mas engraçadíssima. A uns abriria a senha prontamente a outros, se pudesse, diria os maiores impropérios. Mas, pelo sim, pelo não, seria mais justa para o acessamento geral.
Quem não se comporta adequadamente não merece facilidades. O teatro do acessamento será produtivo para criar meios e maneiras de chegar ao que se quer com arte e ciência. Esse  é o ônus da vida moderna.
Faça a sua careta – essa será sua senha segura – intransferível.
Difícil será levar esse circo a sério.
Mas, enfim, chega de seriedade – cada um de nós também merece protagonizar a própria novela. Seja você mesmo o artista principal de sua própria história. Mas cuidado – não erre por três vezes seguidas os trejeitos cadastrados de sua identidade anímica – ficará com a conta bloqueada e o humor vai para o saldo devedor.
Que tal? Sorria você está sendo filmado.


A injustiça

     Certa feita escrevi sobre a gratidão, na minha opinião, o mais nobre sentimento humano. Através dela afloram ou se originam os outros, tão caros a verdadeira e humana convivência entre as pessoas de boa vontade.
      O contrário senso, a ingratidão, por dedução é de fato o mais desprezível e nefasto circunstanciamento sentimental capaz de habitar, sorrateiramente, a alma de alguns infelizes.
      Com a vivência, a experiência e o inevitável envelhecimento compreendi que algo ainda mais desgraçado pode lograr espaço e vontade na consciência dos indivíduos de mau agouro: - a injustiça!
       Essa é brutal em seu conteúdo e vigorosamente demolidora em sua forma.
     A injustiça é a própria ingratidão em roupagem qualificadamente mais arrasadora, potencializando um conteúdo verdadeiramente maléfico.
     Os injustos, bem acima dos simplesmente ingratos, têm a plena dominação do sentimento, do pensamento e do comportamento lesivo. Tem a força e o ânimo para a prática declarada e inapenável de prejudicar os outros.
Se o ingrato, geralmente, não sabe avaliar a extensão de sua ingratidão, o injusto sabe, sobejamente, quanto mal pode causar.
A ingratidão é postura passiva, alienada e quase irresponsável, mas a injustiça é comportamento medido, subjetivo de alto desempenho volitivo e grande conteúdo doentio.
O ingrato chega aos resultados da inconsequência e do desamor por aproximação ou acidentalmente. O injusto reúne, conscientemente, fatos e circunstâncias, para sentenciar, tiranamente, através de sua maledicência sem limites.
Dos ingratos nos defendemos naturalmente, mas dos injustos nem Deus se defende.
Os ingratos são o que são e não tem opinião formada sobre sua condição no relacionamento humano.
Os injustos sabem onde querem chegar e por isso mesmo empenham esforço vigoroso para produzir todo o mal que possam produzir e disseminar.
A ingratidão é uma mera degenerecencia de alma. A injustiça é um credo de caráter, que tem ação rigorosamente destruidora, entendimento reconhecidamente criminoso e ausência total de arrependimento.

Aos ingratos nosso comedido esforço de perdão. Aos injustos não nos restará outra resposta senão a largueza da vida, a sabedoria dos tempos, a couraça da fé e a inteligência da natureza sob o comando silencioso dos olhos de Deus.