Sempre
fiquei com pé atrás quando se levanta a questão da falta de lideranças no
contexto dos pleitos sociais.
Freud
nunca economizou argumentos para explicar que os líderes, no geral, sob a ótica
psico-emocional, via de regra, são aqueles que conseguem interpretar e
representar a essência das paixões coletivas. E estas, normalmente, são
anárquicas, difusas, ansiosas e rigorosamente desprovidas de razão e
disciplina. Todos sabemos que uma sociedade organizada não prescinde de
disciplina e razão. Nesse tempo, nesse
espaço e nessa circunstância, o líder, habitualmente, surge e se consagra pela
incorporação, representação e substrato de uma situação de frustração geral e
desvalia pontual. Uma sociedade com esse tipo de sentimento está definitivamente
doente, na visão de Freud, e o líder, adoecido acima da média, teria o apanágio
de representá-la sobejamente nessa realidade de caos.
Dessa
forma e nesse ânimo, seria o mastro acima dos mastros – a bandeira prevalente
sobre as demais, para indicar caminhos e ditar comportamentos em busca de
respostas imediatistas mas suficientemente satisfatórias no clamor grupal.
Nesse
cenário o líder saberá indicar saídas e seguramente saberá recomendar
artifícios para acalmar o grito social. Mas, acurando a análise, veremos que as
indicações são, na verdade, manobras intempestivas de salva-pátria, pródigas na
forma mas carentes no conteúdo.
Passado
o fato da frustração coletiva, por puro ilusionismo da ação e do discurso,
sobra muito pouco de útil para realmente transmudar o âmago de uma situação
calamitosa. Mas o líder receberá, e aceitará
a condição de destinatário e depositário de todo esse flagelo público,
capitalizando, assim, todo o poder e toda a glória.
E
para fazer exatamente o que?
Lideranças
sociais geralmente são aptas e prontas nas respostas do que se deva fazer, mas
sucumbem quando se questiona o por que (?).
A
história, a grande e verdadeira líder na explicação dos comportamentos
positivos da humanidade, não mente quando expõe, cruamente, as verdades no correr
dos tempos. Hitler, Mussolini, Fidel, Chaves e outros – só para citar – estão
inapenavelmente no reduto honroso (e vergonhoso) das lideranças mundiais.
E
que proveito social tais lideranças conquistaram para gáudio e respeito da
humanidade?
Por
acaso alguém sabe o nome do líder da nação sueca, por exemplo? E da Noruega,
alguém sabe quem é o líder?
Essas
duas sociedades, e outras tantas, deliberadamente ilideradas, tem um nível de
desenvolvimento humano e social, invejável e conseguem o prodígio de dar, a
cada um o que é seu, cotidianamente, sem ruidosidades midiáticas.
O
Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e muitas outras nações conseguem
sobreviver condignamente sem lideranças ostensivas e vivem felizes, plenamente
satisfeitas em suas comezinhas exigências históricas e existenciais.
Quem
lidera no Chile a nação humanamente mais rica da América Latina?
Pensemos,
portanto, com muito juízo e calma sobre essa busca frenética por lideranças em
nosso heterogêneo Brasil. O tiro pode sair pela culatra e certamente sairá se
deixarmos que nossas paixões e imediatismos falem mais alto que nossas
verdadeiras necessidades nacionais. Sejamos cultos, conscientes, críticos,
providentes e líderes de nós mesmos – esse é o melhor caminho e essa a mais
desfraldável e digna bandeira do progresso em prol da qualidade de vida de
nossa gente.
Isso
é o que importa. O resto é teatro e representação.
Não
percamos tempo buscando lideranças – vamos, isto sim, conquistar vida, buscando
e achando boas causas para fazer feliz este povo e grande esta Nação.
O
Brasil – grande e glorioso depende exclusivamente de cada um de nós.