terça-feira, 31 de maio de 2011

Regras...

Então fica combinado assim: - lembra daquele 10 que tiraste em matemática? Pois agora ele vale tanto quanto o dois que aquele coleguinha preguiçoso tirou. Aquela conta que tu pagaste e que te deram recibo, amanhã vão te cobrar de novo. Ah, sim estás saindo para o Banco porque está na hora – esquece, volta a fita, o Banco abrirá e fechará quando bem lhe aprouver. Tens a escritura da casa? Rasga – bota fora. As “regras” (normas, leis, ditames, acordos) não valem mais. Essa é a idéia que passam aqueles que acham que as “normas” ora podem valer ora não. No caso dos “funkeiros fardados”, por exemplo, há quem argumente que a “lei” que regula a execução do Hino Nacional é meio antiga e fora de tom, e por isso pode ser relaxada . Enganam-se. Se desejamos progredir em nossa consolidação democrática, precisamos obedecer as “regras”. Se algumas normas estão anacrônicas ou são demasiado rigorosas para os tempos de “recreio” em que vivemos, sigamos a regra do acordo social: - revogar, suprimir, substituir, modificar, etc são verbos de cidadania que só nos fazem crescer. Mas enquanto em vigência, as leis devem ser rigorosamente respeitadas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A liberdade...

Seis mil e quatrocentos quilômetros em terreno hostil foi o que custou para três heróis que desafiaram as prisões Stalinistas da Sibéria. O filme “o caminho para a liberdade” – retrata com vigor e detalhes essa sobrehumana empreitada de vencer neve, vento, fome, sede, ataques, perseguição, desorientação, cansaço, tempestade, desalento, infortúnios, desenganos, enfim, toda sorte de contratempos para buscar e encontrar a insubstituível liberdade.
E o pior é que só a valorizamos quando dela somos privados, ostensivamente.
Diariamente nos tiram porções ínfimas de liberdade e não dizemos nada.
Quando, um dia, juntarmos todos esses fragmentos veremos que já não valerá a pena andar um centímetro em busca da liberdade pois nem saberemos se ela de fato existe ou para que serve (?) 

Viajar

Recentemente desfrutei a rica companhia de um casal amigo, filiado ao partido dos viajantes, itinerantes, almas leves.
Conversamos lautamente sobre tudo. Curtimos a saudade recíproca – há quase quatro anos não nos víamos – e mais uma vez trocamos experiências.
De minha parte relatei feitos e fatos de meu pequeno e modesto mundo interiorano. O casal amigo contou e detalhou sua última viagem pelo mundo.
Começaram por Paris. É sempre um bom começo – irrepreensível, diria.
Começo, meio e fim: - Paris é um resumo do bom gosto do mundo.
Dali rumaram para Roma. É preciso adjetivar Roma? É claro que não.
Tomaram um trem até o porto e dali embarcaram em um navio (de 16 andares) rumo a outras plagas: - Nápoli, Atenas, Rodes, Cairo. Ah – o Egito – a famosa dádiva do Nilo e terra das pirâmides e da indecifrável Esfinge, que, estima-se tenha bem mais de dez mil anos. Mostraram fotos, contaram fatos – brilharam os olhos, vibraram o espírito narrando a aventura.
No entusiasmo – no calor dessa euforia “caminera” Geraldo não se conteve: “- tens que visitar esse lugar – vai lá já, antes que acabe”...
Rimos muito dessa tirada.
Acabar? Não é impossível – mas, cá entre nós, bem pouco provável.
Ou não?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A BARREIRA

A Revolução havia eclodido, enfim.
Por medida de segurança, foram fechadas todas as saídas rodoviárias da cidade. Barreiras militares faziam o controle dos passantes.
Juvêncio, um proprietário rural, homem probo, conhecido e trabalhador, todos os dias levava seu olho para engordar seu boi, bem ali na estância perto da cidade. E toda a vez tinha que parar na barricada, mostrar documentos, dizer onde ia e porquê. Achava aquilo uma chateação... Vez que outra comentava, já sem paciência:
-         Comigo vocês não pegam cria – por que não me deixam em paz?
A rapaziada da ronda se desculpava, meio sem jeito, explicando que “ordens são ordens”.
Lá um dia viu um amigo seu – vizinho de propriedade – passar direto pela barreira, sem molestações. Quando lhe pararam, reclamou, veemente, o tratamento injusto.
-         A mim vocês param, mas para o Firmino vocês abrem a porteira... O que vocês têm contra mim? Por acaso, o Firmino anda pagando churrasco ou algo mais pra vocês?
Nada disso seu Juvêncio. Não se incomode – disse com respeito, o chefe da brigada. Eu lhe explico o que aconteceu. Ainda ontem nós paramos o seu Firmino e o carro dele se apagou. Depois de mostrar os documentos, ele fez várias tentativas no arranque, mas a caminhoneta  não pegou. Aí, como o veículo estava trancando a passada, resolvi ordenar que a tropa empurrasse a catraia até lá depois da curva. Foi uma trabalheira e tanto. Depois disso tive que dispensar metade do meu efetivo.
Hoje, por medida de segurança, decidi não parar o veículo pois poderia apagar de novo. E aí o senhor já viu o que iria dar...
Juvêncio aceitou a desculpa e seguiu em frente conversando com seus botões:
-         Das duas uma – o Firmino é muito sovina pra não comprar um carro mais novo, ou é muito esperto e usou uma estratégia à prova de qualquer revolução!
Essa dúvida ainda vive...

terça-feira, 10 de maio de 2011

OS PASTÉIS

Conta-se que, certa feita, um respeitável cidadão de Caraguatá do Sul entrou na confeitaria mais importante da cidade, tirou o chapéu, sentou-se, acomodou a bengala, tirou as luvas e educadamente chamou o garçom.
-         Boa tarde.
-         Boa tarde, senhor – disse o serviçal, limpo e devidamente trajado.
-         Servem-se pastéis aqui?
-         Naturalmente, senhor. E estão bem quentes.
-         Pois então sirva-me uma porção, por favor.
-         Só isso senhor?
-         Por enquanto é só, obrigado.
Como num passe de mágica, o garçom prontamente depositou na mesa um prato com quatro fumegantes pastéis.
O senhor das luvas e da bengala disse, então, de maneira fina e diplomática:
-         Pensando melhor, acho que a luz deste entardecer de domingo combina melhor com doces. Servem-se doces, aqui?
-         Perfeitamente, senhor. São novos, deliciosos e... especialmente doces.
-         Então troque estes pastéis pelo equivalente em doces – pediu o homem do chapéu.
-         É para já, senhor. Existe alguma preferência? Quindins, papos-de-anjo, bem-casados?...
-         Confio na sua escolha. Já vi que o Senhor tem bom gosto...
-         Obrigado, senhor – agradeceu o garçom, alegre, com o ego saindo pelas pontas de sua gravata de tope.
Vieram os doces, finamente acomodados em uma pequena bandeja de prata, ornada com ramos de ilusão. O respeitável cidadão de Caraguatá, saboreou-os pausadamente, apreciando o cálido e elegante movimento do lugar. Usou o guardanapo de linho para limpar-se, vestiu as luvas, pegou a bengala, colocou o chapéu e foi saindo, calma e sossegadamente. Já quase na porta o educadíssimo garçom interpelou-o com suavidade cristã:
-         Perdoe, senhor! Suponho que sua distração fez com que o senhor esquecesse de pagar a conta...?
-         Que conta, meu amigo? – indagou, surpreso, o cidadão respeitável.
-         A conta dos doces, meu caro senhor.
-         Mas os doces eu não os troquei pelos pastéis?...
-         Trocou-os, é verdade. Então pague os pastéis.
-         Mas por que hei de pagá-los se não os comi?...