Meu
compadre é um homem de muitas dimensões: - calmo, reservado na medida do
possível e possível na medida dos reservados; um homem vivo, esperto, dono do
seu tempo, que sabe fazer apreciações inteligentes e oportunas; sempre sabe o
que diz e diz tudo o que sabe; alegre e comunicativo não mede braços num abraço
e não conta dedos que não tem. É franco, direto, puro, um homem de lei! Sabe adoçar as horas mais
amargas mas também é mestre em salgar os ambientes mais insossos. Dono de seu
nariz – antigo e simpático nariz – que sente de longe o cheiro da mentira e do
embuste.
Um
sujeito livre por vocação e vocacionado por sua própria liberdade. Nada e
ninguém encilha seu coração para esporear seus sentimentos
Acha
que as ideologias, as doutrinas, os credos e outras faceirices do pensar e do
sentir seriam desnecessárias em um mundo
mais repleto de certezas. Admite que há mais certeza nas coisas que não são do
que nas que são. Ele, por exemplo, vive repetindo que, na verdade, não sabe bem
o que é, o que sabe, o que tem e o que pretende, mas é capaz de saber de cor o
que não é, o que não sabe, o que não tem e o que não deseja. Comenta,
laconicamente, que para ser assim é preciso uma boa dose de humildade. Meu
compadre não ostenta a chamada “falsa modéstia”.
Dia
desses, provocado por um furioso e voluntarioso grupo moralista, instado a
opinar sobre generalidades do mundo e dos mundanos, tais como livre-arbítrio, e
outros quetais do gênero, falou firme e forte derramando sinceridade: - disse,
só para citar, que o perdão é desnecessário onde não existe culpa; que não há
licenças concedidas onde não há proibições; que não vê razão para justificar a
bonança com a ameaça de temporais; que os remendos e os remendeiros são inúteis
em um mundo sem rupturas. Que não é preciso confissões quando não há segredos e
não há segredos onde não existem medos. E sem medos, para que preces?
Que
é absolutamente sem sentido a “salvação” quando não há condenação. Que seria
por demais gratificante se nosso denominado “livre arbítrio” nos guindasse a um
mundo sem perdões, bonanças, remendos, confissões e preces de salvação porque
assim, então, não teríamos as culpas, as rupturas, os temporais, os segredos,
os medos, as condenações e uma porção de outras “cositas” que fazem da
humanidade esse poço de piedade, lágrimas e escravidão.
Apesar
de tudo acredita no mundo e nas pessoas. Acredita, fundamentalmente, em si
mesmo. Filosofando costuma dizer que o mundo, porque é redondo, é uma realidade
singela onde os extremos forçosamente um dia se tocam e por isso mesmo, todos
chegaremos finalmente ao mesmo porto. Daí porque não devemos aceitar o cabresto que nos força seguir para um lado
só, em busca da felicidade.
Estou
para ver homem de maior tino que o meu compadre. Nunca perde as estribeiras e
sempre sabe achar o fio da meada. É a favor da vida e da sanidade. Crê na
bondade, na gratidão e na dignidade das pessoas. Defende a igualdade de
oportunidades e está sempre disposto a lutar, de camisa aberta, por causas que
julga justas. E sobre “justiça” prefere agir mais do que falar, mas previne,
dizendo que o “direito” pode promover a tolerância mas não necessariamente a
amizade entre os homens.
Meu
compadre é um mar de sabedoria e paciência. Sua fé, sua alegria e sua esperança
são contagiantes. Seu passatempo preferido, em sua “cadeira de rodas” é tentar
passar camelos em diminutos buracos de agulhas.
Ocupa
seu precioso tempo nessa sutil tentativa, mas reclama, tempestivamente, pelo
progressivo, inexorável (e inexplicável) aumento dos buracos...
Se
não fosse cego, escolheria ser crítico de cinema, profissionalmente, e astrônomo
nas horas vagas.
Gosto
demais do meu compadre!
Amanhã
mesmo farei um agrado a esse amigo: - mandarei a ele uma farta porção daquelas
amêndoas que nasceram e cresceram na laranjeira lá do fundo do quintal...
E
você que agrado seria capaz de proporcionar ao meu compadre?
Hein?
Nenhum comentário:
Postar um comentário