quarta-feira, 18 de maio de 2011

A BARREIRA

A Revolução havia eclodido, enfim.
Por medida de segurança, foram fechadas todas as saídas rodoviárias da cidade. Barreiras militares faziam o controle dos passantes.
Juvêncio, um proprietário rural, homem probo, conhecido e trabalhador, todos os dias levava seu olho para engordar seu boi, bem ali na estância perto da cidade. E toda a vez tinha que parar na barricada, mostrar documentos, dizer onde ia e porquê. Achava aquilo uma chateação... Vez que outra comentava, já sem paciência:
-         Comigo vocês não pegam cria – por que não me deixam em paz?
A rapaziada da ronda se desculpava, meio sem jeito, explicando que “ordens são ordens”.
Lá um dia viu um amigo seu – vizinho de propriedade – passar direto pela barreira, sem molestações. Quando lhe pararam, reclamou, veemente, o tratamento injusto.
-         A mim vocês param, mas para o Firmino vocês abrem a porteira... O que vocês têm contra mim? Por acaso, o Firmino anda pagando churrasco ou algo mais pra vocês?
Nada disso seu Juvêncio. Não se incomode – disse com respeito, o chefe da brigada. Eu lhe explico o que aconteceu. Ainda ontem nós paramos o seu Firmino e o carro dele se apagou. Depois de mostrar os documentos, ele fez várias tentativas no arranque, mas a caminhoneta  não pegou. Aí, como o veículo estava trancando a passada, resolvi ordenar que a tropa empurrasse a catraia até lá depois da curva. Foi uma trabalheira e tanto. Depois disso tive que dispensar metade do meu efetivo.
Hoje, por medida de segurança, decidi não parar o veículo pois poderia apagar de novo. E aí o senhor já viu o que iria dar...
Juvêncio aceitou a desculpa e seguiu em frente conversando com seus botões:
-         Das duas uma – o Firmino é muito sovina pra não comprar um carro mais novo, ou é muito esperto e usou uma estratégia à prova de qualquer revolução!
Essa dúvida ainda vive...

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