Conta-se que, certa feita, um respeitável cidadão de Caraguatá do Sul entrou na confeitaria mais importante da cidade, tirou o chapéu, sentou-se, acomodou a bengala, tirou as luvas e educadamente chamou o garçom.
- Boa tarde.
- Boa tarde, senhor – disse o serviçal, limpo e devidamente trajado.
- Servem-se pastéis aqui?
- Naturalmente, senhor. E estão bem quentes.
- Pois então sirva-me uma porção, por favor.
- Só isso senhor?
- Por enquanto é só, obrigado.
Como num passe de mágica, o garçom prontamente depositou na mesa um prato com quatro fumegantes pastéis.
O senhor das luvas e da bengala disse, então, de maneira fina e diplomática:
- Pensando melhor, acho que a luz deste entardecer de domingo combina melhor com doces. Servem-se doces, aqui?
- Perfeitamente, senhor. São novos, deliciosos e... especialmente doces.
- Então troque estes pastéis pelo equivalente em doces – pediu o homem do chapéu.
- É para já, senhor. Existe alguma preferência? Quindins, papos-de-anjo, bem-casados?...
- Confio na sua escolha. Já vi que o Senhor tem bom gosto...
- Obrigado, senhor – agradeceu o garçom, alegre, com o ego saindo pelas pontas de sua gravata de tope.
Vieram os doces, finamente acomodados em uma pequena bandeja de prata, ornada com ramos de ilusão. O respeitável cidadão de Caraguatá, saboreou-os pausadamente, apreciando o cálido e elegante movimento do lugar. Usou o guardanapo de linho para limpar-se, vestiu as luvas, pegou a bengala, colocou o chapéu e foi saindo, calma e sossegadamente. Já quase na porta o educadíssimo garçom interpelou-o com suavidade cristã:
- Perdoe, senhor! Suponho que sua distração fez com que o senhor esquecesse de pagar a conta...?
- Que conta, meu amigo? – indagou, surpreso, o cidadão respeitável.
- A conta dos doces, meu caro senhor.
- Mas os doces eu não os troquei pelos pastéis?...
- Trocou-os, é verdade. Então pague os pastéis.
- Mas por que hei de pagá-los se não os comi?...
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