terça-feira, 10 de maio de 2011

OS PASTÉIS

Conta-se que, certa feita, um respeitável cidadão de Caraguatá do Sul entrou na confeitaria mais importante da cidade, tirou o chapéu, sentou-se, acomodou a bengala, tirou as luvas e educadamente chamou o garçom.
-         Boa tarde.
-         Boa tarde, senhor – disse o serviçal, limpo e devidamente trajado.
-         Servem-se pastéis aqui?
-         Naturalmente, senhor. E estão bem quentes.
-         Pois então sirva-me uma porção, por favor.
-         Só isso senhor?
-         Por enquanto é só, obrigado.
Como num passe de mágica, o garçom prontamente depositou na mesa um prato com quatro fumegantes pastéis.
O senhor das luvas e da bengala disse, então, de maneira fina e diplomática:
-         Pensando melhor, acho que a luz deste entardecer de domingo combina melhor com doces. Servem-se doces, aqui?
-         Perfeitamente, senhor. São novos, deliciosos e... especialmente doces.
-         Então troque estes pastéis pelo equivalente em doces – pediu o homem do chapéu.
-         É para já, senhor. Existe alguma preferência? Quindins, papos-de-anjo, bem-casados?...
-         Confio na sua escolha. Já vi que o Senhor tem bom gosto...
-         Obrigado, senhor – agradeceu o garçom, alegre, com o ego saindo pelas pontas de sua gravata de tope.
Vieram os doces, finamente acomodados em uma pequena bandeja de prata, ornada com ramos de ilusão. O respeitável cidadão de Caraguatá, saboreou-os pausadamente, apreciando o cálido e elegante movimento do lugar. Usou o guardanapo de linho para limpar-se, vestiu as luvas, pegou a bengala, colocou o chapéu e foi saindo, calma e sossegadamente. Já quase na porta o educadíssimo garçom interpelou-o com suavidade cristã:
-         Perdoe, senhor! Suponho que sua distração fez com que o senhor esquecesse de pagar a conta...?
-         Que conta, meu amigo? – indagou, surpreso, o cidadão respeitável.
-         A conta dos doces, meu caro senhor.
-         Mas os doces eu não os troquei pelos pastéis?...
-         Trocou-os, é verdade. Então pague os pastéis.
-         Mas por que hei de pagá-los se não os comi?... 

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