Terêncio
era uma figura humana quase curricular. Em todos os cantos, em qualquer roda,
marcava sua presença sempre espirituosa. Na preguiça das tardes ou na
eloqüência das noites, aparecia, capengante, para mudar a história ou confirmar
o destino. Com o hábito, tornou-se indispensável nas reuniões mais corriqueiras
ou nos encontros mais reservados. Às vezes não dizia nada. Apenas seu resmungo
inconfundível (e intransferível) acusava sua densa e espalhafatosa presença.
Outras vezes, era verborréico, ousado, filosófico e incomodamente intrometido.
Estava sempre pendurado nas limosas beiradas do poder. Convivia,
fraternalmente, com autoridades, com chefes políticos, com próceres, com
líderes populares, com ciscunstantes estranhos, com artistas, malabaristas,
bacharéis, coronéis, enfim – Terêncio estava sempre onde se desenhava a equação
da decisão.
Terêncio
tinha o particular poder de aspergir um sutil comentário para catalizar o
debate. Conhecia todo o mundo e sabia de tudo! Sabia da dinâmica sócio-política
do lugar. Morava no hotel mas habitava a alma da cidade...
Tinha
ares de senador. Falava como profeta, andava como fariseu, invocava verdades
magnânimas, filosofava em plena praça, bebia café em copo e formulava
perguntas, engenhosamente, irrespondíveis. Terêncio era um ensaio vivo da
lógica do absurdo... Era tudo e não era nada!
Certa
feita, presente em uma expressiva reunião política, sentiu-se encorajado a
discursar. Homenageava-se, na ocasião, uma brilhante e insinuante liderança
governamental, responsável por vários e brilhantes fatos e feitos na área da
educação oficial. Depois de longa peroração elogiosa pela presença de tão
ilustre autoridade, fez enfática pausa oratória e tonitroou, sem reservas: - “a
ignorância governamental é unânime!...”
- O auditório colheu o
constrangimento em silencioso sobressalto. Alguém puxou a manga do casaco de
Terêncio, à guisa de reprovação, querendo mostrar que o próprio governo ali
estava representado na figura do ilustre Secretário da Educação que,
gentilmente, visitava a cidade. Terêncio, então, recompôs-se, engolindo, com
veemência, a própria pausa para complementar: - eu me corrijo: - “a ignorância
é unanimemente anônima”...
Até hoje, e pelos dias que
virão, jamais saberemos se isso foi uma crítica ou um elogio (?)...
O fato é, que, depois disso,
generosas verbas governamentais aqui aportaram para proveito de todos nós. E os
proveitos eleitorais não foram
“unanimemente anônimos”...
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