terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bom Negócio


Lafaiete Barroso acabara de preencher sua ficha no Hotel Central.

Vinha de muito longe e pretendia permanecer algum tempo na cidade. No espaço que perguntava profissão ou atividade escreveu simplesmente corretor.
Subiu ao quarto, esparramou suas coisas e mais tarde desceu para jantar.
Muito simpático e extrovertido foi logo entabulando uma conversa cordial com o porteiro e com o garçom. Quando lhe deram oportunidade, perguntou, de cara, quem era quem no lugar (?).
Porteiro e garçom divergiram um pouco nas primeiras informações mas, por fim foram unânimes em afirmar que o homem mais rico e importante da paróquia era o Coronel Fulgêncio, que morava bem ali do outro lado da praça. Lafaiete gravou o nome conversou mais um pouco e depois pediu licença para recolher-se.
No outro dia, depois do café, pegou sua pasta e foi ter com o Cel. Fulgêncio.
Na porta da mansão foi atendido por uma preta, muito preta vestindo um avental branco, muito branco.
“Bom dia. O coronel Fulgêncio está?
“O coroné tá drumindo...”
“Pois então entregue meu cartão e diga que volto mais tarde.”
“Sim sinhô.”
Além do nome e da profissão o cartão de Lafaiete tinha impressa uma intrigante e insinuante afirmação: “ Terras do Brasil virgem – compra hoje, economiza amanhã e lucra sempre.”
Lá pelas onze horas Lafaiete voltou a casa do Coronel. Foi mandado passar para a sala principal. Comodamente sentado em uma poltrona como se fora um trono lá estava o Coronel Fulgêncio segurando com as duas mãos uma bengala. Não levantou-se para o forasteiro, apenas fez um pequeno gesto indicando para que tomasse acento na cadeira próxima. Barroso apresentou-se, disse de onde e a que viera. O Coronel ouviu calado e sério as explicações do corretor:
“São terras a espera de um homem de visão como o senhor”- concluiu o vendedor.
“E quando custam?” – perguntou o coronel, com autoridade.
“Por enquanto não lhe custam nada.”
“Mas como isso?”.
“São terras devolutas – sem dono. Preciosamente perdidas nesse imenso País. Eu só quero seu assentimento para poder negocia-las”.
“Mas como vou lhe dar permissão pra vender o que não me pertence?”
“Se o senhor me disser sim já são suas. Eu apenas preciso do seu nome para encaminhar esse negócio”.
“Mas eu não estou lhe entendendo”.
“É simples. O senhor só me diz que quer as terras e eu as negocio para o senhor. Se por ventura eu não conseguir passa-las adiante no espaço de um ano o senhor fica com elas por apenas 20 contos de réis”.
O preço era dado de barato.
“Mas e a escritura?”.
“O senhor assina nesta simples autorização de venda e eu deixo como garantia o meu relógio”.
O coronel examinou o relógio – era um Pathek Fhilip de ouro que valia no mínimo cinco vezes o preço das terras.
“E quem me garante que esse relógio é seu?”.
“Aqui está o certificado de propriedade e eu estou assinando um termo de penhora a seu favor”.
“Então se no espaço de um ano o senhor não vender as terras que eu não comprei,eu pago 20 contos de réis e fico com o seu relógio (??)”
“Isso mesmo. O senhor tem raciocínio muito rápido e não esta de costas para um bom negócio”.
O coronel, que era bastante vaidoso, gostou do elogio e apreciou mais ainda ganhar um belo relógio (de forma legal) por meia dúzia de patacas.
“Está feito!”
Assinaram o que tinha que ser assinado. Lafaiete entregou o Pathek com a documentação e saiu prometendo voltar breve para resgatar seu compromisso.
Cel. Fulgêncio estava eufórico com a grande cartada.
Menos de três meses depois o corretor voltou com um volumoso pacote de dinheiro.
“Coronel – isto é seu. É o produto da venda das suas terras”.
“Mas o que o senhor está me dizendo??..”
“Isso mesmo. Promessa é divida ...”- e entregou ao Cel. um maço de contos de réis que daria para comprar uma boa invernada de bois. Dinheiro para um, relógio para o outro estava terminada a estranha transação entre o corretor Lafaiete e o respeitado Cel. Fulgêncio. Despedidas e gentilezas. Na saída o coronel ainda lembrou:
“Quando surgir um bom negócio como esse não deixe de me procurar”...
Passou um ano e novamente Lafaiete se hospedou no Hotel Central. Desta vez não procurou o Coronel. Procurou amigos e conhecidos deste. Oferecia terrenos numa praia distante. Mais dia menos dia o coronel ficou sabendo da presença de Lafaiete na cidade.
Mandou um próprio chamá-lo com urgência a sua presença. Lá chagando ouviu um severo sermão:
“Mas e o senhor chega na cidade e não me procura??”
“Coronel, eu não lhe procurei porque desta vez não tenho um bom negócio”.

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