Não
sei, ao certo, se a proposta era emagrecer dez quilos em noventa dias ou
noventa quilos em dez dias (?)... o fato é que, finalmente, surgia, uma
proposição séria, pertinente e lautamente exeqüível para o banimento definitivo
daquelas perniciosas e incômodas gordurinhas denunciadas no fecho da calça, no
botão da camisa, na mola do sofá, na estreitura da porta, na partilha do
oxigênio, na amarração dos sapatos, no barulhão do mergulho, na ocupação das
toalhas, nas pegadas na areia, na pulseira do relógio e por aí vai...
Tentara
de tudo: - caminhadas, malhação em regra, pedaladas, spa, corridas noturnas,
chá de losna, fibras, massagens, lipo-aspiração, fluídos, simpatias, carvão,
hipnose, danças, gnose, bailados, halteres, corda de pular, patinetes, enfim,
tudo.
Experimentara,
inclusive, a conhecida e respeitada “dieta lunar”, tida e havida como tiro e
queda. Pois o tal regime, que na verdade tinha lá seu fundo ligeiramente
esotérico, eivado de misteriosa praticidade e doída simplicidade, consistia,
então, na mera e descarada decisão de “não comer”. Prático, simples e eficaz.
E a
lua, onde entra nisso? – perguntarão, com sobrada razão.
Ora,
como nada acontece de graça no imenso e complicado universo da vontade humana,
seria (e é) necessário interpor um sutil derivativo, tão justo quanto,
sobejamente, convincente para que tudo se satisfaça e nada regurgite: - contemplar a lua enquanto
não se come e não comer enquanto se contempla a lua. Daí porque lunar...
E
contemplar não será apenas olhar. Terá que, forçosamente, ser mais e melhor: -
compreenderá filosofar, poetar, cantar, proclamar, delirar, gritar, praguejar
e... enlouquecer!
A
coisa, realmente, funciona “se” e “enquanto” persistir um severo esforço de
auto-disciplina e farto senso de boa vontade.
Será
fundamental que a dieta sobreviva mesmo em noites de lua oculta – imaginá-la,
será decisivo – e, convenhamos, será grandemente útil, não ficar por aí
pensando ou dizendo que a boa lua é aquela que mais parece um saboroso queijo
suíço ou um bem fornido pão-de-ló da vovó...
Cá
entre nós, que a lua lembra uma bela bolacha, ah, isso lembra!...
Simplesmente
“não comer” não era o suficiente – era preciso um bom motivo para jejuar. Fosse
religioso, químico, político, estético, psicológico, endocrinológico – viesse
de onde viesse – seria imprescindível a procedente motivação para desencadear
guerra total e fulminante à indecorosa obesidade.
E
agora surgiam, então, fazendo coro com outras descobertas prodigiosas da
modernidade, as milagrosas pílulas do emagrecimento integral, limpo, sem
efeitos colaterais, sem culpas, sem estrias, sem babados, sem rebuscos e sem
riscados. Coisa de última geração. Uma por dia após o café – ou melhor, após
uma farto e bem nutrido café – seria mais que suficiente para processar o
encanto de recompor a silhueta ao modelo idealizado.
E
quantas idealizações se faz, de graça, nesse particular(?)...
Pois
na esteira do Viagra, vinha fina a solução química para gordinhos e gordinhas,
porque, afinal, de todos é o céu e de ninguém é a exclusiva benesse da leveza
do ser...
Comprimidos
de tirar a fome? Não, não e não. Depois de termos inventado a Internet, o
ônibus espacial, a mega-sena, o fax, a banda cambial, o celular, a reeleição, a
cirurgia endoscópica, o Walter Mercado, o Ratinho, o disc-laser, o plano real,
a vacina anti-pólio, a Carla Peres, a parabólica, a cerveja em lata, o
computador, a CPMF, a clonagem, a moratória, a soja transgênica, a camisinha, o
bambolê, a realidade virtual, o pagode e o fio dental, seria improvável, tanto
quanto sumariamente grotesco, repisarmos o caminho do simplismo vulgar. Não e
não! A pílula do emagrecimento propõe emagrecimento direto – sem escalas e sem
fricotes. Em seu âmago intermolecular possui comandos químicos poli-eficientes
que enterferem em nossos terminais psicossomáticos criando um clima de profunda
interação comportamental de natureza político-carnavalesca que reduntará em
ação intra-atômica de redução absoluta no sentido da conversão peristáltica.
Entenderam?...
Não
importa. O que interessa saber é que as milagrosas pílulas farão mais pela
dieta do emagrecimento do que as últimas medidas governamentais pelo regime
sócio-econômico de nosso país.
Não
acreditam? Tomem as pílulas; experimentem os comprimidos governamentais.
Comparem
e verão. Quem viver – melhor dito – quem sobreviver, verá. Verá?...
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