terça-feira, 4 de junho de 2013

A senha

           Imagino que são poucos, os que lembram de cor as senhas numéricas para movimentação de contas bancárias e liberação de proventos previdenciários.
         Em um mundo desconectado com a decoreba de números – saudosa tabuada – é bem comum o aperto na hora de acessar favores institucionais através do encadeamento de letras e números para atingir o limbo das liberações utilitárias. Sugiro de pronto, que se troque essa prática. Quem sabe propugnemos por máquinas que nos reconheçam por outros prismas: - gestos, impressões digitais, iris, preferências partidárias, particularidades sexuais, cor, estatus social, condição de locomoção, credos religiosos, raça, cultura, títulos, profissão, popularidade, enfim, diversos e vários critérios de diferenciação social bem modernos.
A gente esquece a senha mas tem pouca chance de esquecer o que é ou o que quer ser na dimensão sócio-relacional. Na frente da máquina falaremos a verdade, nada mais que a verdade, como manda a lei e a bíblia.
Um branco inquestionável não precisará mais que isso para fazer funcionar a máquina a seu favor. Mas a segurança do sistema questionará: - tem muitos brancos retintos no pedaço e como saberei com quem estou falando? Fácil. No ato seguinte o branquela revelará outras porções de sua, inconfundível, personalidade: revelando preferência sexual, partido político, condição de locomoção, profissão, títulos, grau de instrução, clubes sociais e por aí vai.
Não há, estatisticamente, gente rigorosamente igual. Ou há!?
A máquina saberá reconhecer as diferenças e esse será o salvo conduto da cidadania nesse impasse.
Difícil – quase impossível – que duas pessoas repousem nas mesmas condições circunstanciais mundanas para efeito de um proveito institucional Universal.
Cada um é um em seus sentimentos, em suas razões e em seu aproveitamento existencial. Podem crer. Somos todos iguais, mas diferentes. Faça o teste e verá.
A diversidade humana é bem maior que a infinidade dos números. Essa é a pura verdade. Somos todos mas sempre seremos um por um, na busca dos interesses pessoais.
Já imaginaram uma máquina computando a diferença de gestos? Complexa é verdade – mas engraçadíssima. A uns abriria a senha prontamente a outros, se pudesse, diria os maiores impropérios. Mas, pelo sim, pelo não, seria mais justa para o acessamento geral.
Quem não se comporta adequadamente não merece facilidades. O teatro do acessamento será produtivo para criar meios e maneiras de chegar ao que se quer com arte e ciência. Esse  é o ônus da vida moderna.
Faça a sua careta – essa será sua senha segura – intransferível.
Difícil será levar esse circo a sério.
Mas, enfim, chega de seriedade – cada um de nós também merece protagonizar a própria novela. Seja você mesmo o artista principal de sua própria história. Mas cuidado – não erre por três vezes seguidas os trejeitos cadastrados de sua identidade anímica – ficará com a conta bloqueada e o humor vai para o saldo devedor.
Que tal? Sorria você está sendo filmado.


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