segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Verão

Com o sol a pino, torrando o pasto, a pele e o ânimo, lá vem o verão, pondo as pessoas para fora das tocas e o corpo para fora das roupas. Quase tudo tem sabor de festa que se espraia na preguiça da sesta e na lentidão dos gestos, que sempre se ajeitam nas dobras fofas, onde boceja um tempo de sedução e transpiração. Verão que a andorinha não faz sozinha, evapora promessas sérias, seca desejos responsáveis, aclara circunstâncias comezinhas e cozinha propósitos que se esvaem em folias de um bissexto fevereiro de acasos.
Verão que se sacia nas águas de março, mas que ainda suspira em maio. Estação do descanso mais cansado que a humanidade conhece. Tempo de planejar e arriscar... Tempo de matar moscas, espantar mosquitos, pisar gafanhotos, evitar jararacas – tempo de perigar...! E as noites?... – pegajosamente quentes – como se fossem caramelos lambuzados nas mãos de crianças choronas – enchem os baleiros de nossos segredos, na prateleira dos medos... Um pingo de suor ardido, escorrerá pela testa libertada da esperança para que uma lágrima agridoce não caia pela face da desventura aprisionada. Esse é o verão de nosso interior, repleto de sons, cheiros e cores, particularmente universais, sob sol torrente, que a santa sombra nos proteja, fechando seu ciclo ardente de magia e graça. O verão passa, verão. Verão?... 

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