quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fora de série

Alguém escandalizou-se ao ver algumas camisas recém chegadas da lavadeira, com amplas e denunciantes manchas. Recém lavadas e com manchas? Mas eram, isto sim, marcas – rastros diria – produzidas pelo excesso de alvejante.
Um olho mais acurado diria que as tais “marcas” sugerem uma mescla em degradê formatando um conjunto harmônico. Coisa para olhos calibrados para a arte. Gente mais certinha dirá, simplesmente, que a lavadeira pôs tudo a perder. Da minha parte direi: - acho ótimo que o excesso de alvejante tenha praticado essa porção de pinceladas aleatórias (ao sabor integral da dinâmica do acaso) pois transformou as tais camisas em peças únicas, raras, inimitáveis, irreproduzíveis, verdadeiros artigos para colecionadores.
E se isso valer – para egos gerais e ou especiais - alguém poderá dizer, batendo no peito, com orgulho – estou com uma camisa fora de série: - em qualquer parte do planeta ninguém veste camisa igual a minha.
Nem nababos, presidentes, reis, artistas, traficantes (os chefes, claro), aiatolás, xeiques, marajás, brancos, pretos, amarelos e holandeses – ninguém tem camisa igual a minha. Nem deputados, senadores, lobistas e empreiteiros tem.
Viva minha camisa – salve o alvejante – glórias a lavadeira.
Neste mundo de massificação compulsória irrecorrível é muito gratificante ser diferente. Mais diferente que isso só os sem camisa pois esses têm a prerrogativa diferencial de seu próprio busto. E isso é tudo! E basta!
Será mesmo?

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