terça-feira, 12 de abril de 2011

Avanços

Permitido não ver – o vertiginoso avanço tecnológico colocará, em breve, na sala dos brasileiros comuns, um aparelho de televisão inteligente (?), capaz de interromper, eletronicamente, cenas que “atentem” contra a moral e os bons costumes. Trata-se de um dispositivo que poderá interagir com a programação, fazendo os cortes salvadores da família, através de um elementar sistema de simetria.Melhor explicado: - o chefe (ou a chefe) da casa, digita o que não deve passar na telinha, e pronto. Toda vez que novelas, noticiários, filmes e outros programas ultrapassarem essa interessante linha censural, o aparelho desliga automaticamente, até que as coisas se recomponham. Será que o horário político vai entrar nessa tesoura???
Mas, enfim, a ciência à serviço da integridade moral das pessoas de bem. Tecnicamente será possível, em futuro próximo, usufruir o direito ao sagrado direito de não ver. Já se prevê que, em algumas residências, a televisão vai passar a maior parte do tempo chuviscando.
Cá entre nós: - não seria mais fácil (?) e mais humano (?) estipular um limite direto, curto e grosso, sem ter que jogar a responsabilidade para esse primo do computador?? Há quem diga que alguns pais de família deveriam receber, eles próprios, uma generosa dieta de chips e integrados para digitarem a coisa conveniente, com coragem, no tempo certo.
Uma dose para aplacar a febre permissiva, circuitar a indiferença e desligar o medo dos filhos... Será que a técnica tem (ou terá) esse recurso??...
Cachorro? – depois da ovelha clonada e do rato com orelha humana nas costas, a novíssima (?) bio-engenharia promete um cachorro rigorosamente “sociável e vizinhal” – não late, não morde, não defeca, não acumula pulgas, não faz aquilo em postes e assemelhados, nem perturba a gata da vizinha.
Pela via lógica do prometido, há de se depreender que esse fantástico cusco do futuro também não caçará, nem fugirá de foguete e tampouco correrá atrás da banda, nem se perderá da mudança, pois não será cão vagabundo, que anda sozinho no mundo, sem coleira e sem patrão...
Continuará sendo animal de estimação – grande amigo do homem – de insuspeita utilidade e lealdade – que conseguirá caçar, com invulgar talento, de dois em dois dias, os óculos do dono, se e quando conseguir farejar os seus próprios óculos... Eta cachorro bom; meu garoto!...
Transporte – No futuro não precisaremos de estradas, nem de trens, caminhões, navios e aviões. Automóvel será só para passear em volta da praça.
No amanhã transportaremos animais, pessoas e coisas através da “desintegração”. Isso mesmo: - uma prodigiosa máquina, instalada nas estações certas, fará o transporte correto (?) desintegrando as partículas e as reintegrando no destino. Coisa simples, desburocratizada e sem maiores angústias. Desmancha uma carga de arroz na saída da lavoura e a recompõe na porta do armazém. Desintegra uma excursão do exército da salvação e a reintegra na praça da promissão. Esfacela a Xuxa e a recupera lá em pleno estúdio. Desmancha o Tiririca e conserta, com maquiagem e tudo, para trinta segundos de horário político obrigatório. Alguns políticos deixará uma molécula por aí de tanto que transitam. O Papa tomou cuidados, e manda benzer sua máquina de manhã e de tarde. Certos deputados só vão encontrar todos os seus átomos na próxima eleição, se forem eleitos.
Aquela carga de bananas que virou abacaxi não deu grande prejuízo ao feirante, pois consumidor é bicho manso que aceita qualquer coisa. Se o gato veio por lebre, ficará tudo certo, o povo é suficientemente tolerante e compreensivo. A máquina será um sucesso!... Podem crer. Se faltar luz – hipótese pouco provável – a mágica pode complicar. É oportuno que se informe que a tal estrovenga funciona à força de energia elétrica. Pois é...
Em um primeiro momento alguns disparates podem acontecer: - de repente, o Tiririca pode descer com a gravidez da Xuxa e a própria vai aparecer na telinha (para espanto dos baixinhos e altinhos) com a indecente touca do Tiririca. Vez que outra Sua Santidade pode aparecer de brinco e generosas tatuagens. Aquela carga de arroz pode confundir o livre comércio de pó em algumas esquinas e Fidel pode aterrissar como vocalista do U-2 em plena Barra da Tijuca. Fenômenos acontecerão... mas só nos primeiros cento e cinqüenta anos. O resto está calmo, tranqüilo e... normal!...

3 comentários:

  1. Grande Pacase, sempre com bons textos, gostei muito desse, mas ainda prefiro o conto dos camoatins.

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  2. Uma concepção futurista com grandes posibilidades de se tornar realidade. Nao duvidemos.
    Abraços Pacasi

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