terça-feira, 5 de abril de 2011

Minha resposta – 4/4/11.

Amigo Guilherme.
“É gratificante contemplar um “contraponto” tão inteligente quanto oportuno. Se uma expressiva parcela de nossa sociedade experimentasse tal senso crítico, nem precisaríamos discutir a obrigatoriedade ou não do voto, certamente. Essa sociedade saberia que o direito/dever de votar é fundamental para a manutenção e o aprimoramento de nossas instituições democráticas. Quando conjuguei “respirar” com “votar” foi apenas para enfatizar o aspecto de “necessidade” pessoal do cidadão imiscuído na tarefa de participar. Por esse ângulo é que vislumbro a questão: - a primeira (respirar) estritamente pessoal e a outra (votar) de sobeja projeção e efeito social. Mas a “necessidade” nos dois casos – no meu ponto de vista – sempre será rigorosamente subjetiva. Ninguém respira por ninguém assim como ninguém vota por ninguém. Aqueles que não sentem a “necessidade” de votar presumo que, de fato, não precisam e não querem participar do processo político-eleitoral. Mesmo sem votar, um dia poderão questionar o andamento das instituições mas seu questionamento só será procedente e decisivo através do voto. Pelo menos isso é o que se preconiza nas democracias ideais. Onde há liberdade de votar o não votante estará se auto-alienando por conta e risco. Que carregue o ônus de sua vontade – ou desvontade... Na obrigatoriedade do voto a participação não será essencial e sim apenas formal. Forma se modela – essência se liberta... No capítulo da representatividade penso que esta tem mais a ver com “qualidade” do que com “quantidade”. Especialmente na democracia. Senão, vejamos: - pelo que sempre soube, democracia é um regime que prega o império da lei e esta é a resultante do acordo social. Na democracia ideal lei não é produto da vontade da maioria e sim fruto do consenso – acordo de vontades. Imagine se valesse, sob qualquer circunstância, o clamor da maioria? Teria que se enforcar o árbitro quando este deixasse de apitar um pênalti a favor de nosso time, com torcida majoritária no estádio? Por sermos maioria estaríamos com a razão? E se assim fosse o que seria das minorias? Não teriam vez nem voz em uma democracia? Absurdo. Ainda comentando sobre esse duelo entre quantidade e qualidade lembro de uma história que vem bem a calhar: - conta-se que na Universidade de Coimbra, em tempos de antanho, havia um bonde, puxado por dois burros, que transportava estudantes do centro até o campus. A original condução levava uma hora para chegar ao destino. Alguém espertamente sugeriu que se acrescentasse mais dois burros e assim o tempo do trajeto diminuiria para meia hora. Observando melhor, um mais esperto sentenciou que se deveria colocar logo quatro burros pois assim nem se precisaria sair para chegar... Transporta, caro Guilherme, o conteúdo dessa historinha para o debate sobre “representatividade”. É verossímil que todo o esforçado aumento na quantidade (de burros) em nada mudou a essência da tarefa. Não é a quantidade o indicativo da verdade – pelo menos nesse minúsculo enfoque do universo relacional. Aqui é a qualidade que conta... No plano estatístico e na seara das investigações comparadas penso que se deva dar um crédito ao voto livre assimilando como real o exemplo de algumas democracias estáveis que o adotam há muito tempo.
No mais, um forte abraço amigo Guilherme e obrigado por me oportunizar essas elucubrações campeiras. Forte abraço.
P.S. – aqui na Rádio Sulina costumamos dizer: - “quem não participa não tem o direito de decidir”... 

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