Glorinha bateu forte na porta da
vizinha, pedindo socorro, pois sentira que tinha alguém no pátio interno da
casa tentando roubar os botijões de gás. A notícia espalhou-se rápida como fogo
rasteiro em campo seco. Em minutos a vizinhança toda descia na casa de Glorinha.
Corre pelos fundos, tranca a frente, cuida o telhado, fecha o portão do lado. O
cerco estava feito. A viatura da polícia chegou de pronto para dar mais brilho
a aventura vespertina daquele domingo frouxo. Armas engatilhadas, estratégia na
ponta dos pés, tática muito técnica, começou o trabalho de captura dos gatos.
Corre para cá, corre para lá, sobe no telhado, pula o muro, encosta na parede,
voz de prisão, não resista, mãos ao alto. Tudo muito rápido e profissional.
Quando um dos policiais já estava com a mão no calcanhar de um dos gatunos,
aconteceu o insólito: - o homem perseguido virou-se para o gerdarme e falou: -
“por aqui ele não foi – eu estava cuidando”. O policial atônito olhou e viu que
o solícito informante não portava nada que se assemelhasse a botijão e
acreditou na informação. Sua fé fez com que desse meia volta e buscasse sua
presa pelo outro lado. Assim escapou o
primeiro ladrão. O segundo aproveitando a carência de luminosidade e a
concentrada atenção do público na cunheira da casa, juntou-se aos demais, e
somou-se ao ruidoso clamor de justiça. Há quem diga que era um dos que mais
gritava pedindo pronta punição para os fascínoras. O tempo ia passando e nada
da polícia prender os amigos do alheio. Ao comandante da operação passou rápida
suspeita de que tratava-se de alarme falso e de que a história deveria ser
debitada a velha e conhecida histeria de dona Glorinha, assídua frequentadora
do plantão policial. Seria mais um registro improcedente?? Os fatos levavam a
isso. No entanto a verificação constatou que na verdade os botijões estavam
fora do lugar. Aliás, muito fora de lugar. Um deles equilibrava-se no muro do
vizinho e o outro estava reluzente no topo da casa. E os ladrões?? Mágica
total. Sumiram como que por encanto. Depois de mais de hora volta a polícia de
mãos abanando aparentemente resignada.
Para não deixar as coisas em brancas nuvens resolveu-se levar os botijões para
averiguações gerais e investigações especiais. Mais de dois meses passaram e os
únicos presos incomunicáveis continuam sendo os inatacáveis e balofos botijões
cheios de tanto formalismo e burocracia.
Os ladrões estão por aí mas os
botijões estão devidamente presos.
Bravos!
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