sábado, 3 de agosto de 2013

A prisão do botijão

Glorinha bateu forte na porta da vizinha, pedindo socorro, pois sentira que tinha alguém no pátio interno da casa tentando roubar os botijões de gás. A notícia espalhou-se rápida como fogo rasteiro em campo seco. Em minutos a vizinhança toda descia na casa de Glorinha. Corre pelos fundos, tranca a frente, cuida o telhado, fecha o portão do lado. O cerco estava feito. A viatura da polícia chegou de pronto para dar mais brilho a aventura vespertina daquele domingo frouxo. Armas engatilhadas, estratégia na ponta dos pés, tática muito técnica, começou o trabalho de captura dos gatos. Corre para cá, corre para lá, sobe no telhado, pula o muro, encosta na parede, voz de prisão, não resista, mãos ao alto. Tudo muito rápido e profissional. Quando um dos policiais já estava com a mão no calcanhar de um dos gatunos, aconteceu o insólito: - o homem perseguido virou-se para o gerdarme e falou: - “por aqui ele não foi – eu estava cuidando”. O policial atônito olhou e viu que o solícito informante não portava nada que se assemelhasse a botijão e acreditou na informação. Sua fé fez com que desse meia volta e buscasse sua presa pelo outro lado.  Assim escapou o primeiro ladrão. O segundo aproveitando a carência de luminosidade e a concentrada atenção do público na cunheira da casa, juntou-se aos demais, e somou-se ao ruidoso clamor de justiça. Há quem diga que era um dos que mais gritava pedindo pronta punição para os fascínoras. O tempo ia passando e nada da polícia prender os amigos do alheio. Ao comandante da operação passou rápida suspeita de que tratava-se de alarme falso e de que a história deveria ser debitada a velha e conhecida histeria de dona Glorinha, assídua frequentadora do plantão policial. Seria mais um registro improcedente?? Os fatos levavam a isso. No entanto a verificação constatou que na verdade os botijões estavam fora do lugar. Aliás, muito fora de lugar. Um deles equilibrava-se no muro do vizinho e o outro estava reluzente no topo da casa. E os ladrões?? Mágica total. Sumiram como que por encanto. Depois de mais de hora volta a polícia de mãos abanando aparentemente  resignada. Para não deixar as coisas em brancas nuvens resolveu-se levar os botijões para averiguações gerais e investigações especiais. Mais de dois meses passaram e os únicos presos incomunicáveis continuam sendo os inatacáveis e balofos botijões cheios de tanto formalismo e burocracia.
Os ladrões estão por aí mas os botijões estão devidamente presos.

Bravos!

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