sábado, 3 de agosto de 2013

Mascateando

Com a pasta cheia de promessas saiu pelo mundo para vender futuro.
Na primeira porta foi atendido por um manso velhinho curvado de olhar singelo.
- “Meu senhor tenho aqui um negócio de ocasião – preço módico, pronta entrega e lucratividade certa – futuro do bom  – é pegar ou largar”.
- Moço – o que tem esse teu futuro que me seja tão necessário?
- Tem poder, tem saúde, tem dinheiro, tem aventura. Mercadoria garantida – é comprar e levar.
- Quanto custa?
- Custa vida, fé, esperança, paciência, perseverança, empenho, força e saúde.
- Não posso comprar – não tenho a moeda que exiges.
- Faço desconto – pronto.
- Mesmo assim – não posso assumir tal compromisso, pois sei que não poderei pagar: - meu saldo é insuficiente.
- Então faça uma contra-proposta.
- Faço – pago teu futuro com meu passado.
- Não aceito. O que farei com  teu passado? A quem venderei?
- Venda aos moços – eles apreciarão tal experiência e a mesma poderá render-lhes bons dividendos.
- Negócio fechado. Passe pra cá seu passado e tome conta do meu futuro.
Com a mala cheia de passado bateu na segunda porta e foi atendido por um moço, irremediavelmente inválido.
- Rapaz, quer comprar passado?
- Ah – se quero – quanto custa?
- O presente, meu jovem – em suaves e módicas prestações mensais.
- Tudo bem, se aceitas meus trocados, faremos negócio já.
- Que moeda tens para mim?
- Tenho sofrimento, remédios, terapia, esta cadeira de rodas, duas muletas e um tédio formidável que no mercado negro vale uma fortuna.
- Negócio feito. Passe pra cá esse flagelo – vou vendê-lo por uma fortuna na primeira esquina para jovens aventureiros, inconscientes e voluntariosos, cansados da saúde, da normalidade, da riqueza, da felicidade e do bem estar.
- E o que farás com todo esse dinheiro?
- Comprarei, a preço de custo, mais futuro e mais passado.
- E aí, continuarás por aí, de porta em porta, vendendo essas bugigangas?
- Não – essa quantia depositarei no cofre de minha consciência – e tentarei viver dos gordos juros dessa experiência.
- Então, boa sorte e bons negócios.
- Obrigado, amigo. Um bom negócio nunca se deve perder...

Ajeitou suas tralhas e pegou carona na primeira nuvem rasteira em direção a fronteira.

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