Com a pasta cheia de promessas saiu
pelo mundo para vender futuro.
Na primeira porta foi atendido por um
manso velhinho curvado de olhar singelo.
- “Meu senhor tenho aqui um negócio
de ocasião – preço módico, pronta entrega e lucratividade certa – futuro do bom
– é pegar ou largar”.
- Moço – o que tem esse teu futuro
que me seja tão necessário?
- Tem poder, tem saúde, tem dinheiro,
tem aventura. Mercadoria garantida – é comprar e levar.
- Quanto custa?
- Custa vida, fé, esperança, paciência,
perseverança, empenho, força e saúde.
- Não posso comprar – não tenho a
moeda que exiges.
- Faço desconto – pronto.
- Mesmo assim – não posso assumir tal
compromisso, pois sei que não poderei pagar: - meu saldo é insuficiente.
- Então faça uma contra-proposta.
- Faço – pago teu futuro com meu
passado.
- Não aceito. O que farei com teu passado? A quem venderei?
- Venda aos moços – eles apreciarão
tal experiência e a mesma poderá render-lhes bons dividendos.
- Negócio fechado. Passe pra cá seu
passado e tome conta do meu futuro.
Com a mala cheia de passado bateu na
segunda porta e foi atendido por um moço, irremediavelmente inválido.
- Rapaz, quer comprar passado?
- Ah – se quero – quanto custa?
- O presente, meu jovem – em suaves e
módicas prestações mensais.
- Tudo bem, se aceitas meus trocados,
faremos negócio já.
- Que moeda tens para mim?
- Tenho sofrimento, remédios, terapia,
esta cadeira de rodas, duas muletas e um tédio formidável que no mercado negro
vale uma fortuna.
- Negócio feito. Passe pra cá esse
flagelo – vou vendê-lo por uma fortuna na primeira esquina para jovens
aventureiros, inconscientes e voluntariosos, cansados da saúde, da normalidade,
da riqueza, da felicidade e do bem estar.
- E o que farás com todo esse
dinheiro?
- Comprarei, a preço de custo, mais
futuro e mais passado.
- E aí, continuarás por aí, de porta
em porta, vendendo essas bugigangas?
- Não – essa quantia depositarei no
cofre de minha consciência – e tentarei viver dos gordos juros dessa
experiência.
- Então, boa sorte e bons negócios.
- Obrigado, amigo. Um bom negócio
nunca se deve perder...
Ajeitou suas tralhas e pegou carona
na primeira nuvem rasteira em direção a fronteira.
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