Nasci e por isso (ou apesar disso)
contratei com a vida.
Contrato simples, bilateral, poucas
cláusulas – com direitos e obrigações para ambos os lados – tudo muito justo.
Objeto de contrato: - a existência.
Obrigações: - a vida obrigava-se a conceder-se
e eu de vivê-la.
Direitos: - correlatos mas inespecíficos.
Sanções: complexo de culpa, remorso,
neurose, ansiedade, frustração, sentimento de auto-comiseração, infelicidade.
Cá entre nós acho que fui
profundamente lesado nessa cláusula pois tenho sobradas razões para desconfiar
que a vida tem poucas chances de penar com esses castigos. Mas assinei e está
assinado.
Tempo do contrato: - a vontade. Não
ficou bem claro se a minha ou a da vida (?)... Salvo melhor juízo ficou
subentendido que esse item obedeceria o critério da média das vontades dos
contratantes, como convém a qualquer documento legítimo, honesto e pleno de
equidade. Que assim seja.
Foro: - foi eleito o foro da
consciência para julgar e decidir conflitos, dúvidas e casos omissos.
Inicialmente pensei ter levado
vantagem nessa cláusula depois me dei conta de que não há consciência sem vida.
Entenderam a jogada?...
Compreendi então, resignadamente, que
a vida manobra soberanamente toda essa máquina do foro: - juízes, promotores,
oficiais de justiça, cartórios e a própria legislação estão, cativamente a
serviço da vida e essa rege-se por leis próprias devidamente, homologadas pela
morte.
Contrato assinado: - só resta
cumpri-lo. Que remédio?
Nenhum comentário:
Postar um comentário