sábado, 3 de agosto de 2013

O contrato

Nasci e por isso (ou apesar disso) contratei com a vida.
Contrato simples, bilateral, poucas cláusulas – com direitos e obrigações para ambos os lados – tudo muito justo.
Objeto de contrato: - a existência.
Obrigações: - a vida obrigava-se a conceder-se e eu de vivê-la.
Direitos: - correlatos mas  inespecíficos.
Sanções: complexo de culpa, remorso, neurose, ansiedade, frustração, sentimento de auto-comiseração, infelicidade.
Cá entre nós acho que fui profundamente lesado nessa cláusula pois tenho sobradas razões para desconfiar que a vida tem poucas chances de penar com esses castigos. Mas assinei e está assinado.
Tempo do contrato: - a vontade. Não ficou bem claro se a minha ou a da vida (?)... Salvo melhor juízo ficou subentendido que esse item obedeceria o critério da média das vontades dos contratantes, como convém a qualquer documento legítimo, honesto e pleno de equidade. Que assim seja.
Foro: - foi eleito o foro da consciência para julgar e decidir conflitos, dúvidas e casos omissos.
Inicialmente pensei ter levado vantagem nessa cláusula depois me dei conta de que não há consciência sem vida. Entenderam a jogada?...
Compreendi então, resignadamente, que a vida manobra soberanamente toda essa máquina do foro: - juízes, promotores, oficiais de justiça, cartórios e a própria legislação estão, cativamente a serviço da vida e essa rege-se por leis próprias devidamente, homologadas pela morte.

Contrato assinado: - só resta cumpri-lo. Que remédio?

Nenhum comentário:

Postar um comentário