terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Valores

Quando os fatos do cotidiano nos impõem uma triste realidade de banalização da vida. Quando os noticiários nos auguram o fim dos tempos com informes da derrocada dos valores básicos de uma sociedade. Quando o sentimento internalizado no seio familiar subverte os verdadeiros princípios da fraternidade, da solidariedade e da justiça é tempo de darmos um tempo para a reflexão e análise corajosa e criteriosa de tudo o que nos cerca, e acima de tudo e fundamentalmente, sobre o circunstanciamento das relações sociais que essencializam nosso existir, aqui e agora. Vemos progresso técnico e científico. Constatamos evolução nas maneiras de agir e de empreender mas não vemos nem verificamos sentido ético e finalidade substantiva em nossas ações coletivas em prol de uma sociedade mais harmônica, justa, satisfatória e providente. Isto é um fato. Os referenciais da valorização humana nas relações sociais foi posto de lado e imperam as vantagens do logro, das ações safardanas, das condutas egoístas, das atitudes velhacas e dos comportamentos fantasiosos de enganação geral.
            Reclamamos do bandido que mata para se apossar de um par de tênis. Nos escandalizamos com as motivações torpes e fúteis dos que nos roubam e nos agridem a troco de nada.
            Mas sabemos que nós próprios, por ações ambivalentes e muito mais por omissões, somos os sustentáculos desse estado caótico e degenerador.
            Senão vejamos. Na medida em que, por ação ou omissão, damos mais valor a um jogador de futebol do que a um médico; na exata medida em que remuneramos melhor um cantor qualquer do que alguém que arrisca sua vida para nos proteger; na proporção em que pagamos mais por um político do que por um cientista; na relação de valor entre um ator de novelas e um doador de sangue; na comparação de influência entre uma novela de sucesso e uma história consistente de vida, de trabalho e subsistência; na perspectiva de um professor e um oportunista aproveitador no jogo das vantagens do conchavo, do clientelismo e do corporativismo, estamos, de fato, pagando o preço e escrevendo nossa história de desvalia geral. O que reclamar dos bandidos? Com que cara e argumentos enfrentaremos a penosa realidade da crescente e perigosa desvalorização da vida e dos vivos de boa vontade?
            Tudo o que hoje acontece em nosso meio de maneira chocante, escandalosa e impactante tem suas razões e sua gênese, e nós somos os atores e autores. A culpa é nossa e de mais ninguém. Se não é por ação – certamente será omissão. Podem crer.

            Oportuno será refletirmos. Urge pensarmos a respeito. Um dia arrancaram as flores de nosso jardim e não falamos nada. Outro dia mataram nosso cachorro e continuamos calados. Dia chegará em que invadirão nosso lar e aí nada poderemos dizer e fazer porque quando podíamos não fizemos nem dissemos nada.

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